Pistas da Europa
Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Clique aqui para abrir a imagem
Brasil deve aprender com novo estágio da Covid-19 em
outros países; ampliar testagem é necessário
O atual estágio da Covid-19 na Europa, na esteira da
reabertura das economias e da flexibilização das
restrições sociais, tem apresentado um padrão diferente
do observado na etapa inicial da disseminação da
doença no continente.
Dados mostram que, embora a quantidade de novos
casos venha crescendo em diversos países, superando
o patamar atingido no início do ano, os números de
mortes e de hospitalizações mantêm-se em níveis
bastante abaixo dos registrados meses atrás.
Na França, por exemplo, as infecções pelo Sars-CoV-2
aumentaram 213% na comparação com o auge da
epidemia. As hospitalizações, todavia, equivalem hoje a
26% do anotado no pico, ao passo que os óbitos
perfazem somente 13%, segundo dados do Instituto
Estáter.
O mesmo se verifica em outras nações severamente
afetadas pela primeira passagem da doença, como
Espanha, Itália e Reino tinido. A exceção é Portugal,
cuja taxa de mortalidade foi significativamente menor do
que nesses países, mas que agora vê, com o aumento
de casos, um número de internações próximo do auge.
Embora seja cedo para apontar as causas do
fenômeno, algumas hipóteses parecem razoáveis.
Em primeiro lugar, dado que a capacidade de testagem
e rastreamento nos países europeus cresceu
sensivelmente nos últimos meses, muitos casos que
passariam despercebidos no início - sobretudo de
jovens, menos vulneráveis ao agravamento da doença
agora engrossam as estatísticas.
A redução de óbitos e hospitalizações, ademais, pode
estar relacionada ao fato de que parte considerável das
pessoas mais suscetíveis a morrer ou ter versões
graves da doença já tenha sido infectada.
Assim se explicaria o padrão observado nos países
citados, onde a maior parte dos óbitos se concentra em
regiões inicialmente poupadas - enquanto nos locais
que sofreram mais no começo as mortes estão abaixo
da média geral.
Deve-se considerar ainda que o conhecimento médico
acerca da doença vem evoluindo desde o início da
pandemia, o que também tende a reduzir a taxa de
mortalidade e o número de internações.
Atingido depois pelo novo coronavírus, o Brasil deveria
acompanhar com atenção a tendência europeia, a fim
de se preparar para cenários futuros da doença.
Um passo importante seria ampliar a política de
testagem, de forma a permitir um controle ativo dos
casos, encontrando pessoas que ainda não apresentam
sintomas - algo que o país, até hoje, parece longe de
alcançar.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas