Clipping Banco Central (2020-10-19)

(Antfer) #1

Eleições epandemia


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: Marcas André Melo


Há nas nossas eleições municipais uma característica
singular - que não é exclusividade do nosso país - já
investigada a fundo por pesquisado res, conhecida
como "desvantagem do incumbente".


O efeito é contra intuitivo pois o ocupante de um cargo
pode utilizar os recursos diversos que dispõe - desde
assessores à própria máquina pública - na disputa
eleitoral. Isto explicaria as "taxas soviéticas" de
reeleição para muitos cargos eletivos: em 2018, na
Câmara dos Deputados nos EUA, a taxa de reeleição
alcançou 96,7% (e ainda mais alta no nível local).


São múltiplos os fatores que explicariam as
desvantagens para os incumbentes: nas democracias
novas os que alcançaram o cargo sob o antigo regime
gradativamente perdem poder; há muitas necessidades
insatisfeitas; os partidos fracos são pouco informativos,
convertendo a performance individual dos políticos na
principal pista para o voto etc.


Nas eleições municipais deste ano, 3.082 prefeitos


tentam a reeleição (55,3% do total), e só podem fazê-lo
uma vez. Em 2016, 2.708 tentaram e pouco menos da
metade - 1.270, 01146,8% tiveram sucesso. Para os
vereadores o quadro é mais vantajoso: 2/3 lograram
reeleger-se.

N este ano o quadro pode mudar: podemos esperar
excepcional vantagem pró ocupantes do cargo. Sim,
este é mais um dos efeitos da pandemia.

São várias as razões: o efeito "união de todos contra a
emergência" beneficia quem já está no poder; os amais
incumbentes desfrutam de enorme exposição na mídia;
lockdowns são obstáculos para os desafiantes; a
campanha será mais cinta.

Há também fatores negativos: situações de calamidade
funcionam como lente de aumento sobre os ocupantes
do poder executivo (não vereadores).

A maior vigilância se traduz em maior punição ao mau
desempenho e mais premiação ao bom: os resultados
dependerão do contexto.

O resultado líquido dessas forças contraditórias será
que provavelmente os incumbentes terão mais
vantagens que desvantagens, revertendo a tendência
contrária.

Há no entanto uma variável nova na atual eleição cujo
efeito é difícil de estabelecer: a proibição das coligações
proporcionais. Ele já pode ser observado na redução de
partidos na disputa eleitoral. O número médio de
partidos passou de 14 para 7, como mostrou Guilherme
Russo (FGV).

Por outro lado, o número de candidatos aumentou em
10% na média, e muito mais que isso nos municípios
grandes, porque agora os partidos têm que alcançar o
quo ciente eleitoral sozinhos, sem coligar-se.

A mudança já produziu também expressiva migração
dos pequenos para os grandes partidos. Ao contrário de
Free download pdf