Clipping Banco Central (2020-10-19)

(Antfer) #1

ANTONIO GOIS - O bom professor debaixo da árvore


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Sociedade
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: ANTONIO GOIS


A semana passada, em que se comemorou o Dia do
Professor, foi repleta de justas homenagens. A
valorização para valer dos docentes, porém, exige
obviamente muito mais do que elogios públicos. E
preciso aperfeiçoar políticas públicas que melhorem a
atratividade da carreira, a formação e as condições de
trabalho.


Uma imagem comumente usada para elogiar esses
profissionais é a do professor dedicado, embaixo de
uma árvore, dando aulas aos seus alunos. Geralmente,
a cena é descrita para argumentar que um bom docente
é capaz de superar as situações mais adversas para
impactar positivamente na vida dos estudantes. Não há
dúvida de que contar com um profissional competente e
dedicado, em qualquer carreira, é sempre positivo. O
risco é acreditar que isso basta.


A aula embaixo da árvore, ou em qualquer situação que
fuja do padrão a que estamos acostumados, quando
feita com intencionalidade pedagógica, é certamente
potente. Quando ocorre por carência de recursos, no


entanto, não há nada a comemorar. Dotar as escolas de
infraestrutura básica para o trabalho dos professores e
alunos é uma das condições essenciais para
avançarmos.

No ano passado, um estudo publicado pela Unesco,
coordenado pelas pesquisadoras Maria Tereza
Gonzaga Alves e Flávia Pereira Xavier (ambas da
UFMG), mostrou que ainda há muita desigualdade na
qualidade da infraestrutura de escolas públicas no
Brasil, e que o Ideb é maior em colégios em melhores
condições neste quesito.

A melhoria das condições de trabalho não diz respeito
apenas às condições físicas. Dar aulas em salas
superlotadas ou ter que se desdobrar para trabalhar em
diferentes escolas, acumulando um número alto de
alunos atendidos no total das jornadas, são outros
fatores que prejudicam o desenvolvimento profissional.
Esse segundo fator - a múltipla jornada em diferentes
escolas, especialmente no ensino médio - está
associado também a outra questão fundamental:
salários.

A principal evidência em favor do argumento de
melhorar a remuneração docente não está no impacto
imediato da medida, mas sim na melhoria da
atratividade da carreira. Uma característica dos países
de melhor desempenho no Pisa é justamente o fato de a
remuneração média dos professores não ser tão
discrepante em relação à média dos demais
profissionais com nível superior. No ano passado, um
estudo feito pelos pesquisadores Eric Hanushek, Marc
Piopiunik e Simon Wiederhold em 31 países da OCDE
(O Brasil, portanto, não foi incluído) mostrou que havia
uma relação entre maiores salários, melhor
desempenho dos professores em testes da OCDE
aplicados à população adulta nessas nações, e
melhores resultados de aprendizagem dos estudantes
no Pisa.

Por fim, a formação universitária e o desenvolvimento
profissional ao longo da carreira também aparecem
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