Clipping Banco Central (2020-10-19)

(Antfer) #1

FERNANDO GABEIRA - Dinheiro nas nádegas, a pátria no coração


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Convivi cordialmente com Chico Rodrigues na Câmara.
Assim como convivi com Bolsonaro e o próprio Severino
Cavalcanti, inclusive depois de sua derrubada.


Uso pouco a expressão "baixo clero" ou mesmo "vale
dos caídos" para designar aquelas fileiras numa zona de
sombra no final do plenário.


Aprendí na cadeia, como se não bastassem outras
experiências, a conviver sob o mesmo teto com pessoas
que não escolhi. E aprendi também que alguns
deputados simples e discretos tinham muito a me
ensinar, como era o caso do piauiense Mussa Demes,
que sabia tudo sobre política fiscal.


Bolsonaro nunca foi genuinamente contra a corrupção.
Ele integrava o partido em que Paulo Maluf era um dos
expoentes. Sua luta era basicamente contra a esquerda,
e a corrupção só se tornou interessante para ele quando
a percebeu como o ponto fraco do governo petista.


Chico Rodrigues de uma certa forma sabia disso. Num
encontro com Bolsonaro, ele declara que o presidente
soube encarnar o espírito do tempo, preencher essa


lacuna de liderança, defender a família, dar exemplos
para a juventude.

Traduzindo o discurso de Chico, ele estava dizendo
para Bolsonaro: "Vamos nessa, irmão, é por aí que
devemos seguir".

O resultado não custou a aparecer. Chico era um
grande companheiro. Elogiava Bolsonaro, empregou em
seu gabinete o primo e amigo de Carlos e ganhou o
cargo de vice-líder.

Quando o condecorou, Bolsonaro teve a preocupação
de lembrar que Chico estudou num colégio militar.
Ambos sabem que existe uma aura de seriedade em
torno dos militares e querem tirar todo o proveito dela.

Bolsonaro e Chico são o novo poder. No passado, havia
dólares na cueca; agora, a moeda na roupa íntima é o
real.

Não sei se seria correto invocar Freud paira explicar
tanto dinheiro nas nádegas. De fato, o sábio austríaco
associava o dinheiro a pulsões anais, mas o fazia de
uma forma sofisticada. Freud tentava explicar relações
obscuras, apontar as bases essenciais de relações que
as aparências escondiam.

No caso de Chico Rodrigues, o exemplo é grosseiro e,
por que não admitir?, até malcheiroso. Não se trata de
uma que subiu ao substituição simbólica do dinheiro
pelas fezes, mas sim de uma fusão concreta de uma
equivalência metafórica.

O resultado é que Bolsonaro ficou de desviar com a
retaguarda descoberta. Já estava dinheiro público após
a prisão de Fabrício Queiroz. Fica cada vez mais
evidente que subiu ao poder apenas um novo e caseiro
método de desviar dinheiro público.

O episódio acontece uma semana depois que Bolsonaro
afirmou que acabara coma Lava-Jato porque não há
corrupção no seu governo. Na semana em que André
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