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CACÁ DIEGUES - O projeto das redes


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O Globo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Para cinéfilos e cineastas que implicam com o
streaming, como uma forma contemporânea de ver um
filme, lembro que é bem possível que, não existindo
essa plataforma, não tivéssemos como vertítulos que
estão arrasando no gosto do pessoal durante a
pandemia. Estamos vendo, no streaming, filmes
realizados por diretores consagrados, como "Roma",
"Destacamento Blood" ou "O irlandês", mas também e
sobretudo filmes que, de outro modo, talvez jamais
víssemos. Como "Lindinhas" ou "O dilema das redes",
alguns dos mais comentados, citados e criticados (que
produzem análises) na temporada.


"Lindinhas" (Mignonnes), filme francês dirigido pela
estreante Maümouna Doucouré, trata de adolescentes,
em geral de famílias imigrantes, que vivem em
subúrbios parisienses, correspondentes às nossas
periferias urbanas miseráveis e marginais. Como a
Netflix se recusa a fornecer os números de sua
programação, ficaremos sem saber quantas pessoas já
viram esse filme. Mas, por sua repercussão escrita e
falada, podemos considerá-lo um dos grandes sucessos
do cinema francês contemporâneo. Não é de hoje que a
imigração africana e árabe, na França, tem sido tema de


filmes locais de grande qualidade. Agora são os
próprios imigrantes, e sobretudo seus filhos, já nascidos
no país, que tomam a câmera para contar suas
histórias, como em "Lindinhas".

Fico pensando em quando o cinema brasileiro de
moradores de favelas estiver consolidado, quantas
descobertas temáticas e de talentos terão sido feitas.
Esse tipo de produção, no Brasil, não tem se
desenvolvido à altura da qualidade de quem a pratica,
pelo simples motivo de que faltam recursos para fazê-lo
e estruturas que garantam o curso da vida dos filmes.

É claro que, nesse caso, o principal responsável por tais
recursos e estruturas deve ser o Estado. Mas nosso
governo não está nem um pouco interessado em ajudar
a alavancar o cinema brasileiro já consagrado, imagine
aquele que tem que ser descoberto e revelado. Dez
anos atrás, num esforço de caráter privado, realizadores
que hoje trabalham regularmente em cinema e
televisão, como Luciano Vidigal, Fernando Barcellos,
Luciana Bezerra, Gustavo Melo, Rodrigo Felha, Manaira
Carneiro, Cadu Barcelos e outros foram revelados por
"5XFavela, agora por nós mesmos", projeto construído
pelos próprios cineastas moradores de favelas. É
inacreditável que nunca mais a experiência tenha se
repetido.

Outro filme bombando no streaming é "O dilema das
redes" ("The social dilemma"), documentário americano
de Jeff Orlowski, lançado pela Netflix no início de
setembro e até hoje batendo recordes de acesso e
visibilidade. Fruto do esforço de jovens gênios e gênias
da cultura digital, dando entrevistas e palpites sobre o
tema e o sentido do filme, esse documentário nos põe
diante da maravilha tecnológica das redes sociais e dos
danos que elas têm causado à sociedade, seja no
controle do consumo, seja na condução de políticas
nacio- nais.

Amais espantosa constatação de "O dilema das redes"
é que o bem-sucedido apelo obsessivo de uma rede
social não é nuncaum efeito colateral, mas o próprio
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