Clipping Banco Central (2020-10-19)

(Antfer) #1

CLAUDIO ADILSON GONÇALEZ - A inflação não está morta


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
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A economia brasileira opera atualmente com enorme
ociosidade, tanto no mercado de trabalho como no uso
da capacidade instalada das empresas. Nessa situação,
o repasse das pressões de custos para os preços dos
bens finais de consumo é bastante dificultado. Somente
em 2020, o real sofreu desvalorização de cerca de 40%
ante o dólar, os preços internacionais das commodities,
não só agrícolas, mas também de algumas matérias-
primas, subiram expressivamente, mas as expectativas
de inflação apuradas pela pesquisa Focus, do Banco
Central (BC), continuam bem abaixo do centro das
metas para 2020 e 2021, e não as ultrapassam nos
anos seguintes.


Vejamos alguns números. O Indice de Preços ao
Produtor Amplo (IPA-M), da Fundação Getúlio Vargas,
subiu 25,3% nos 12 meses encerrados em setembro,
puxado sobretudo pelo crescimento do valor em reais
das commodities agrícolas. O repasse para a
alimentação no domicílio, do IPCA, que subiu 15,4%, no
mesmo período, foi quase total. Não fosse a elevada
ociosidade da economia, esse aumento teria grande
potencial de se propagar para outros preços, irradiando-
se primeiramente por pressões salariais e daí para


outros bens e serviços. É o que se chama efeitos
secundários dos choques de custos.

Contudo, a inflação não está morta. Ela se encontra
apenas adormecida, e quem pode despertá-la é o
desajuste fiscal. Vejamos melhor como isso funciona.

Quando ocorre crescimento da inflação, economistas
ortodoxos e heterodoxos costumam entrar em batalha.
Os primeiros tendem a explicar o fenômeno como
causado por pressões de demanda, e a receita para
isso é aumento dos juros e contração fiscal. Os
segundos acham que se trata de "inflação de custos",
ou seja, contração da oferta. Se este for o caso,
argumentam, apertos fiscal e monetário seriam inúteis.
Onde está a verdade? Como quase sempre, no meio.

Os modelos utilizados para balizar a política monetária
da maioria dos bancos centrais no mundo incluem
equações que mensuram o grau de ocupação da
capacidade produtiva (em linguagem técnica, estimativa
do hiato do produto) - que depende da taxa real de
juros, do impulso fiscal, do ciclo econômico internacional
e do nível de incertezas - e outras que estimam o
impacto, sobre a inflação, desse hiato e de outras
variáveis tais como expectativas, inércia inflacionária,
preço das commodities, taxa de câmbio e eventos
meteorológicos.

Como se vê, a inflação depende da interação dessas
variáveis. Portanto, são perfeitamente possíveis
episódios inflacionários mesmo com a economia
operando com ociosidade, ou seja, com hiato do
produto negativo. Para isso basta a ocorrência, em
magnitudes suficientemente elevadas, de depreciações
cambiais, de choques externos e de problemas
climáticos que afetem a oferta de certos bens, entre
outros.

E é aqui que o desajuste das finanças públicas entra na
conta. O Brasil sairá da crise econômica provocada pela
pandemia com enorme elevação da relação dívida/PIB.
O presidente Bolsonaro tem dado sinais preocupantes
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