Clipping Banco Central (2020-10-22)

(Antfer) #1

O ensino superior e o desemprego


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Os últimos números da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad) Contínua revelaram que a taxa
geral de desemprego foi de 13,3% no segundo trimestre
de 2020, atingindo 12,8 milhões de pessoas. É um
número muito alto, para um país que já tem um
contingente de 32 milhões de trabalhadores informais,
que atuam por conta própria e sem carteira assinada.


A situação é ainda mais preocupante entre os jovens de
18 a 24 anos, pois a taxa de desemprego ficou em
29,7% - ante 25,8% no mesmo período em 2019. Outra
faixa etária muito afetada pelo aumento do desemprego
foi a dos 25 aos 39 anos, atualmente com 35,3% de
desocupados. Entre os diferentes problemas
acarretados por esse avanço do desemprego, dois
merecem atenção.


No caso dos jovens de 18 a 24 anos, muitos recém-
graduados fizeram cursos superiores tradicionais, cujos
currículos estão desconectados das tecnologias
advindas com a Indústria 4.0. Por isso, em plena
pandemia eles têm sido obrigados a buscar empregos
sem a devida formação, num período em que as vagas
disponíveis exigem habilidades específicas. Esse é o


motivo pelo qual cerca de 50% dos brasileiros com
graduação completa estão trabalhando em atividades
que não exigem formação superior, como mostra o
IBGE. E, apesar de as autoridades educacionais terem
consciência desse problema há tempos, pouco têm feito
para reformular a educação superior, que em muitas
áreas continua carente de cursos interdisciplinares.

Atualmente, os cursos de graduação duram de quatro a
cinco anos e são divididos em áreas tradicionais, como
ciências exatas, biomédicas e humanas. De um modo
geral, o primeiro ano é dedicado às disciplinas
propedêuticas. O segundo é destinado às chamadas
teorias gerais. O terceiro é voltado ao aprofundamento
do nível de formação técnica. E os dois últimos
envolvem a opção por áreas de especialização e a
busca por estágios e postos de trainee.

O problema é que, como as mudanças tecnológicas
ocorrem em ciclos temporais cada vez mais curtos,
quando os estudantes ingressam num curso superior a
tecnologia predominante é uma. Já quando se formam,
ela é outra, o que os leva a se diplomar com uma
formação tecnológica defasada. Dito de outro modo,
quando fizeram o vestibular, depois de concluir um
ensino médio com currículo ultrapassado, optaram por
um cenário de mercado profissional que já não existe no
ano em que se formam. Esse é um dos fatores
responsáveis pelas altas taxas de evasão entre o
primeiro e o terceiro ano no ensino superior - a taxa é
de 60% nas universidades privadas e de 30% nas
universidades públicas.

Já no caso dos trabalhadores da faixa etária entre 25 e
39 anos, o problema é de requalificação profissional
com base nas novas tecnologias. No Brasil, a pós-
graduação foi por muito tempo basicamente acadêmica,
voltada para a formação de docentes e pesquisadores,
e não de técnicos. E, além da resistência de alguns
governos à expansão dos mestrados
profissionalizantes, os cursos técnicos quase sempre
ficaram circunscritos ao nível médio. Só nos últimos
anos é que começaram a ser postas em prática
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