Clipping Banco Central (2020-10-22)

(Antfer) #1

A reconstrução da Bolívia


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Quase um ano após a turbulenta renúncia de Evo
Morales, sob suspeitas de ter manipulado as eleições
de 2019, o povo boliviano elegeu no primeiro turno o
candidato de seu partido, Movimento ao Socialismo
(MAS), Luis Arce. Considerando as tensões
desencadeadas pelos desmandos do regime de Morales
e do governo que lhe sucedeu, a relativa tranquilidade
da transição foi surpreendente, em se tratando da
tumultuada democracia boliviana.


Morales - com Arce no comando da economia durante
quase todos os 14 anos em que esteve no poder -
aproveitou habilmente o boom das commodities: o país
aumentou seu PIB de US$ 9,5 bilhões para US$ 40,8
bilhões e reduziu a pobreza de 60% para 37%.


Mas os ganhos não vieram sem custos para as
instituições democráticas. Solapando, com a anuência
de seus sabujos no Tribunal Constitucional, um
referendo que lhe negou o direito a um quarto mandato,
Morales concorreu em 2019. Ante suspeitas de fraude
endossadas pela Organização dos Estados Americanos,
uma série de protestos violentos eclodiu nas ruas, e
Morales, pressionado pelas Forças Armadas, renunciou,


refugiando-se no México e depois na Argentina.

A senadora direitista Jeanine Anez assumiu a
presidência interina garantindo que seu único objetivo
era preparar eleições limpas, mas se aproveitou do
poder para acossar seus rivais e viabilizar sua própria
can- didatura, que acabou abortada com a gestão
desastrada da crise pandêmica.

A corrida eleitoral foi marcada pela polarização entre o
MAS e seus opositores de direita dispersos entre oito
candidaturas. O principal adversário de Arce foi o ex-
presidente de centro-direita Carlos Mesa, que inclusive
parecia levar vantagem num eventual segundo turno.
Boatos e acusações correram soltos, levando a temer o
pior.

Mas tão logo as urnas foram abertas, apontando a
vitória de Arce, as autoridades serenaram rapidamente
os ânimos. Anez reconheceu a vitória na própria noite
da eleição e, com uma ou outra exceção, como a do
candidato reacionário Luis Camacho, os adversários
também referendaram o pleito.

Tudo indica que o MAS, por sua vez, renunciou a uma
atitude revanchista, prometendo uma gestão
conciliadora. O próprio Arce representa a ala mais
pragmática do partido. O porta-voz do MAS, Sebastián
Michel, declarou que o estilo do novo governo será
outro, mais aberto ao diálogo com a oposição. Ele,
assim como a presidente do Senado, Eva Copa,
afirmam que o partido pretende retificar os erros do
passado e que não é hora de falar em um retorno de
Morales.

Há esperanças bem fundadas de renovação. O fato de
que os radicais de direita foram desmo- ralizados nas
urnas é alvissareiro e há elementos para uma agenda
comum entre o governo e a centro-direita, como o
combate ao narcotráfico ou o emprego das reservas de
lítio. Arce não deve ter o mesmo domínio sobre o
Congresso que tinha Morales. Se isso pode levar a um
impasse, também é uma oportunidade para robustecer
Free download pdf