Aero Magazine - Edição 317 (2020-10)

(Antfer) #1
18 |^ MAGAZINE^317

ENSAIO EM VOO


POR | SILVIO FACCIO*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE


A VOLTA DOS


TURBO-HÉLICES


À PONTE AÉREA


Os últimos voos de um ATR entre São Paulo e Rio de Janeiro


durante o período de interdição da pista principal de Congonhas


F


aço em Campinas, no
interior de São Paulo,
a apresentação do
voo. Acabo de voltar
de férias obrigatórias.
Tive sorte. Serei o responsável
pela última operação dos aviões
ATR da Azul na ponte aérea entre
Congonhas (CGH/SBSP) e Santos
Dumont (SDU/SBRJ), organizada
durante o período de interdição da
pista principal do aeroporto pau-
listano para realização de obras de
recapeamento – com a consequen-
te suspensão de voos com jatos.
Desde 1991, com a aposentadoria
dos Electra, a rota Rio-São Paulo
não tinha operações exclusivas
com turbo-hélices.
Reúno-me com o restante da
equipe na base para tripulantes
do terminal de Viracopos, local
mais conhecido como crew desk.
Enquanto não recebo o plano de
voo, verifico reportes e dados me-
teorológicos via Notam, Metar e
TAF, assim como boletins comuns
da operação. Após cumprir todos
os procedimentos e analisar as
informações, partimos de van para
a capital de São Paulo.
Na chegada a Congonhas, uma
cena inimaginável: nunca vi o ter-
minal tão vazio. Vejo apenas pas-

sageiros do nosso voo nos balcões
de check-in. A sala de embarque
superior está deserta. Movimento
mais intenso apenas no andar
inferior, onde há um grupo maior
de pessoas embarcando em outro
voo da Azul, que sairá em alguns
minutos, e mais um da Voepass,
com embarque previsto para co-
meçar daqui a pouco. São reflexos
da paralisação do mundo diante
da pandemia de covid-19.

UM SONHO
Realizamos o deslocamento
para a posição 1 onde o PR-AKJ,
o nosso ATR 72, nos aguarda.
Trata-se do penúltimo ATR rece-
bido pela Azul, que chegou à frota
em fevereiro de 2018 com uma
configuração um pouco diferen-
te daquela aplicada nos demais
aparelhos desse modelo em uso.
Os aviões de matrícula AKI, AKJ,
AKL estão configurados com 68
assentos e possuem peso máximo
de decolagem (MTOW) de 23 mil
quilos. Os aviões com prefixos
TKI, TKJ, TKK, TKL, TKM e
AQB vieram da frota da Trip e,
embora também disponham de
capacidade para 68 passageiros,
têm um MTOW de 22.800 quilos.
Além disso, não contam com

boost (sistema de configuração de
potência de decolagem automá-
tica) nem datalink (comunicação
de cabine por texto), comuns no
restante da frota. Os outros ATR
da Azul têm capacidade para
70 lugares e MTOW de 23 mil
quilos.
Operar em Congonhas é um
sonho para qualquer aviador.
Ainda me lembro da surpresa ao
vir para CGH no jump seat de
um Fokker 100 durante o curso
de piloto e ouvir o comandante
dizer: “Visual com a 17R”. Naquele
momento, cheguei a comparar o
aeroporto a um porta-aviões ro-
deado por prédios e pensar como
jatos poderiam pousar ali – qual
não foi minha surpresa ao consta-
tar que modelos pesados como o
Airbus A330 e os Boeing 767-
chegaram a operar naquela pista.
Anos mais tarde, já como copiloto
de linha área, tive a oportunidade
de decolar de Congonhas com o
737-300 e o Embraer 190. Sempre
gostei muito dessa operação...
controle ágil e vetorações precisas.
Às vezes, no ponto de espera,
quando imaginava que não tinha
separação para deixar o solo, a
torre agilizava tudo e fazia acon-
tecer. Nessa hora, era preciso estar
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