VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA Nº 4

(MARINA MARINO) #1
Capítulo 4: A coreana

Hae-Won

A exposição de fotografias teria
início em algumas horas e Hae-Won
aindaestavapendurando-asnasparedes
da galeria, em Seul. Esperava uma
grande visitação,já que o evento havia
sido divulgado com intensidade pela
cidade, pelas mídias sociais, até pela
televisão
Seu trabalho fotográfico é
reconhecido em todo o mundo,
“fotografiaquedenuncia”,comoelagosta
de chamar, porque mostra ao mundo
umarealidadeescondida.Nocasodessa
exposição,uma realidade que violentou
muitas mulheres coreanas, vítimas dos
invasores japoneses, escondida durante
muitotempo.
Chamadas de “mulheres de
conforto” foram escravizadas pelos
japoneses durante a segunda guerra
mundial. Em geral mulheres jovens,
meninas ainda, eram sequestradas por
soldados japoneses e trancafiadas em
bordéismilitares,chamadosde“casade
conforto”. O que Hae-Won quer saber,
mas a história não quer contar é:
confortoparaquem?
Quandoviuasprimeirasfotosque
foram divulgadas por volta de 1981 ,
trintaeseisanosapósofinaldaguerra,
mostrando as condições sub-humanas
que as mulheres coreanas viveram
enquanto foram escravas sexuais, a
fotógrafaficouchocadae,éclaro,incluiu
essasfotosemsuaexposição.


Hae-Won procurou organizar a
sequênciadasfotosdeumaformaque
ahistóriafossecontada,sempalavras.
Elaprovocaovisitantequemergulhar
naquele túnel do tempo para que
formule,elepróprio,suasperguntase
encontre as respostas. Ela criou uma
verdadeira instalação artística para
promover o choque, para desnudar a
verdade, ali mesmo, naquela pequena
galeria. Ao final, expõe suas próprias
fotografias, mostrando as
sobreviventes, como estão hoje,
destacando com as lentes de sua
câmera as dificuldades que viveram
quando voltaram para casa, após a
guerraacabar.
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