National Geographic - Portugal - Edição 236 (2020-11)

(Antfer) #1

É o pior pesadelo de Fauci? Eu quase fi quei
sem dormir.
No momento em que esta pandemia ameaça
o mundo inteiro, o combate tem sido bastante
público. O cidadão comum está a obter informa-
ções privilegiadas sobre teorias científi cas habi-
tualmente reservadas a conferências académi-
cas e a revistas de baixa circulação. Grande parte
do debate sobre estas ideias tem lugar na tele-
visão, no Twitter, no Facebook e em convívios
nos jardins de epidemiologistas de bancada.
Às vezes, dou por mim a perguntar-me se al-
guém envolvido nesta discussão saberá, de fac-
to, de que maneira a ciência funciona.
Milhares de investigadoresa reorientaram os
seus laboratórios, mesmo que muito distantes
da virologia ou das doenças in-
fecciosas, paraatacarem colec-
tivamenteestahidradeseteca-
beças.Nuncaseviunadaassim,
comoscientistasenvolvidosem
colaborações internacionais a
todoo vaporatéquandoalguns
dosseuslíderespolíticosdispa-
ramunssobreosoutros.
Assistir a este crescente es-
forço científico tem sido uma
espadadedoisgumes:senti-me
encorajada por testemunhá-lo,
masfoitão difícil de acompa-
nhar que também contribuiu
paraa minhaansiedadegenera-
lizada.Portanto,fizaquiloque
tenhofeitoaolongode todaa
minha vida adulta: contactei
alguns cientistas paraouvir a opinião deles.
Estaé umafantásticavantagemdesermosjor-
nalistas:podermosfazerperguntasestúpidasa
genteinteligente.Normalmente,costumaaju-
dar-mea esclareceromeupróprioraciocínio.
Destavez...nemporisso.
A ciênciadevanguardaexpõesempreo pouco
queé conhecido,mesmoporpresumíveisperi-
tos.Porisso,estestelefonemasesclareceram-me
sobreo caminhoquenosfaltapercorrer.Mesmo
assim,foiinteressanteouvirquemuitoscientis-
tasandavamà procuraderespostas.
“Temsidoextraordináriovercomoaspessoas
estãoa usarosseustalentose donspararesol-
veresteproblema”,disse-meGreggGonsalves,
co-directordaParceriaGlobalparaa Justiçana
Saúde,daUniversidadedeYale.“Todasaspes-
soasqueremdaroseucontributo”,aindaque


sejam formadas em Direito, Geogra-
fi a, Antropologia, Artes Plásticas ou
outros domínios muito distantes.
Toda esse enfoque na investiga-
ção permitiu obter uma enorme
quantidade de informação num pe-
ríodo de tempo incrivelmente curto.
Poucas semanas depois da primeira
transmissão animal-para-humano de
que há conhecimento, os cientistas
já tinham sequenciado o genoma
completo do vírus. No Verão, mais
de 270 potenciais fármacos contra a
COVID-19 estavam a ser objecto de
ensaios clínicos activos nos Estados
Unidos. Quanto à demanda do San-

toGraal,umavacina,umalegiãode
investigadoresdedezenasdepaíses
jáidentificoumaisde 165 candidatos
noprincípiodeAgosto.Osprogres-
sos foram tão rápidos que até um
hiper-realistacomoFauci–partidá-
riodatesedequeé precisoexplicar
aopúblicoa enormeimportânciade
realizar ensaios clínicos de grande
escalaantesdaintroduçãodenovos
fármacos – afirmou sentir-se “pru-
dentementeoptimista”paraafirmar
quepoderiaserdisponibilizadauma
vacinanoiníciodopróximoano.Se
ele tiver razão, ficaria pronta três
anos mais depressa do que omais
rápidodosdesenvolvimentosdeva-
cinasdahistória.(3)

A TECNOLOGIA
APONTA
O CAMINHO

REPENSANDO
A NOSSA
SOCIEDADE

Nunca houve igualdade no acesso
de banda larga à Internet. A pandemia
expôs esse fosso. No entanto, os
progressos das redes de telecomunica-
ções de alta velocidade 5G alimentarão
um surto de crescimento, desde a
telemedicina à banca, educação e
transportes, proporcionando ligações
mais rápidas e mais acesso. “Vai ser um
maremoto de mudança”, afirma David
Grain, antigo presidente de uma
empresa de torres de comunicações
então chamada Global Signal.
As redes mais eficientes reduzirão
os custos e ajudarão as pequenas
empresas arrasadas pela pandemia
a alcançarem novos clientes e
a crescerem. — DANIEL STONE

PRECISAMOS DE CONFIAR NA CIÊNCIA 19

3.
O recorde
foi estabe-
lecido em
1967, com
a vacina da
papeira.
O cientista
Maurice
Hilleman
utilizou o
vírus que
isolara a
partir da
sua filha.

ILUSTRAÇÃO: RACHEL LEVIT RUIZ

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