National Geographic - Portugal - Edição 236 (2020-11)

(Antfer) #1

teoriasdaconspiraçãosobreo coronavírusa cir-
cularempelomundo,a OrganizaçãoMundialda
Saúdeveiodeclararqueestamosa enfrentardois
surtosdesaúdepúblicaemsimultâneo:apan-
demiapropriamenteditae uma“infodemia”de
ideiasperigosamenteenviesadasa seurespeito.
Naverdade,nãoé precisoserumacérrimode-
fensordeteoriasdaconspiraçãosobrea COVID
pararecusarquaisquerliçõesqueestapandemia
nospossaensinar:bastaserumserhumanoco-
mum,devistascurtase falível.“Todasasepide-
miasqueestudeiacabamsemprecomamnésia
global”,disseHowardMarkel.“Voltamosà nos-
savidinhaalegre.”Os“problemasgritantes”que
contribuíramparao surto(crescimentourbano,
destruição de habitat,viagens internacionais,
alteraçõesclimáticas,refugiados
de guerra)limitam-se apersis-
tirà medidaqueaspessoasvão
perdendointeressepelotemae
quemaistempo,maisdinheiro
e maisrecursossãodedicadosà
ciência.“Ospolíticospassamao
espectáculoseguinte,enquanto
os responsáveis pelas políticas
públicasclamamnodeserto.”
OséculoXXIjáfoi classifica-
do comoaquilo a que Howard
Markelchamao séculodasepide-
mias:SARSem2003,gripeH1N1
(gripesuína)em2009,MERSem
2012,Ébolaentre 2014 e 2016,e,
agora,a COVID-19em2019, 2020
e ninguémsabeporquantosmais
anos. Cinco epidemias em 20
anos,cadaumaligeiramentepiordoquea ante-
riore a actualváriasvezesmaisgravedoqueas
outrasquatrojuntas.


TALVEZ,deumamaneiraestranha,veros
cientistastentaremconstruirumaviãoao
mesmotempoqueo fazemvoarsejauma
facetapositivaparacompreendero processocien-
tífico.Talveza pandemiaconsigaconvenceros
próprioscépticosdequãoimportantea descoberta
científicaé parao florescimentodahumanidade.
Éessaa esperançadeLinAndrews,directo-
radeapoioaosprofessoresnoCentroNacional
paraa EducaçãoCientífica.“Emgeral,aspes-
soasconfiaminatamentenoscientistas,mas,
quandosetratadeumtemapolarizado,asi-
tuaçãopodemudar”,afirmouestaantigapro-
fessoradeBiologiadoensinosecundário.Tal-


vez esta nossa observação sem fi ltros
acabe por revelar-se positiva. Afi nal,
a melhor maneira de reforçar a con-
fi ança na ciência é mostrando toda a
experimentação e afi nação de hipó-
teses – enlouquecedora, quando es-
peramos ansiosamente por respos-
tas para uma epidemia global, mas,
se virmos bem, o único caminho
para alcançarmos os resultados que
nos permitirão prosseguir a vida.
Segundo os inquéritos, a opinião
pública está menos desalentada por
ver os cientistas em acção do que eu
temia. Desde 2015 que o Centro de
Investigação Pew acompanha aqui-

loqueosnorte-americanospensam
sobrea ciênciae essaopiniãotem-se
tornadosolidamentemaispositiva,
incluindo numinquérito realizado
emAbrile Maiode2020,quandoo
coronavírusdisparavae muitosdos
inquiridosseencontravamsujeitosa
confinamento.
Em Janeiro de 2019, no último
inquérito conduzido antesdapan-
demia,osinquiridosmostravam-se
inclinadosa confiarnoscientistas:
86%reconheciamquetinham“mui-
ta”ou“bastante”confiançadeque
oscientistaslevavama sérioo inte-
ressepúblico.Esseníveldeconfian-
çasubiuligeiramentepara87%du-
rantea pandemia.

FUNCIONAR
À DISTÂNCIA

REPENSANDO
A NOSSA
SOCIEDADE

A Internet permitiu que milhões de
pessoas trabalhassem remotamente,
mas expôs-nos ao risco de ciberata-
ques. Segundo Jesper Andersen,
director-geral da firma de cibersegu-
rança Infoblox, “é mais complicado
garantir a segurança de um negócio
inteiramente operado à distância”, para
não falar num consultório de telemedi-
cina ou numa rede de automóveis com
piloto automático. As VPN (redes
virtuais privadas) actuais não funciona-
rão com eficiência se milhões de
pessoas trabalharem a partir de casa.
Os servidores descentralizados
aumentarão a velocidade. Formas mais
elaboradas de início de sessão reforça-
rão a segurança na Internet. —DS

ILUSTRAÇÃO: RACHEL LEVIT RUIZ PRECISAMOS DE CONFIAR NA CIÊNCIA 23

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