Valor - Eu & Fim de Semana - Edição 1039 (2020-11-06)

(Antfer) #1
Sexta-feira,6denovembrode2020|Valor| 19

Para Filgueiras,a
pandemia traz
algumas tendências
favoráveisaosetor
hoteleiro, como
estadias mais longas
e o fortalecimento
doturismodelazer
nopaís

dorna;eobife àparmigiana de vitelo, em-
panadocomfarinhade pão de queijoe
guarnecidodecouveepurêdeinhame.Aca-
basedecidindopelaprimeiraopção.
“O polvoprecisaser bembonito, para
sair bem na foto”, brincacom o garçom.De
entrada,bate omartelono crudode wa-
gyu, servidocom azeitede olivaorgânico,
pólende abelhaeplantasalimentícias não
convencionais(pancs).
Quando os pratoschegam, BrenoBerdu,
o chef do restaurante,apareceparaapre-
sentá-los e desejar bomapetite.Desdea
inauguraçãodo hotel,em 2001,éosexto
ocupante do posto,que já pertenceuacozi-
nheiroscomoPier Paolo Picchie José Barat-
tino. Aapostaem ingredientes brasileirose
pequenosprodutoresdo país éuma das
marcasdos cardápioselaboradospor Ber-
du. “Os visitantesde fora queremconhecer
agastronomialocal”,diz ohoteleiro. De so-
bremesa ele pedea que juntamussede cho-
colatecom 70% de cacau,cerejaamarena,
biscuitdecranberryesorvetedepistache.
Comoquasetodorestaurante,odoEmi-
lianotambémse rendeuao “delivery”na
quarentena. É uma novidadeque veio para
ficar. “Mas decidimos entregar também
um poucoda nossahospitalidade”, diz Fil-
gueiras,explicandoque, alémdos itenslis-
tadosno menu,o empreendimentopassou
a despachar kits temáticos.Criadono auge
da quarentena,o que propõeum piqueni-
que “indoors”, por R$ 350, paraduaspes-
soas, reúnedesde coalhadacom mele
chutneyde manga até queijode cabra,vi-
nho tintoetoalhaxadrez.O maisrefinado
incluiporçõesde caviar, salmãodefumado
e macarons,entreoutrositens,euma gar-
rafa de champanhe. Se for da Moët& Chan-
don sai por R$ 950;se for da DomPérig-
non, por R$ 1.800.Do kit criadopara oDia
das Mãesforamvendidas500 unidades.
Questionadose os gastos com artigos eser-
viçosde luxotendema diminuirno “novo
normal”,elenegacategoricamente.“Nonosso
segmento,nãofoiporfaltadedinheiroqueas
pessoasdeixaramde gastar nos últimosme-
ses. Nempor algum tipode constrangimento
ou culpaem esbanjar,só estavam fisicamente
impossibilitadas”, afirma. “Talvezosupérfluo
eaostentação percamforçano mercadode
luxo, mas, no geral,as pessoas estão mais pro-
pensasacelebraravida.”
A crescentefrequênciado EmilianoSão
Paulo nosfins de semana seriaum espelho
disso. Antes da pandemia, a ocupaçãode se-
gundaa sexta rondava os 80% e caía para 55%
aos sábadose domingos. Era arealidade da
maioria dos hotéis paulistanos—quase todos
a trabalho,os hóspedes desapareciam nos


dias de folga.“Hojeregistramosooposto”, diz
Filgueiras, fazendo coro aoutroshotéis da ci-
dade.A suítemais cara do Emiliano, por sinal,
cujasdiárias rondam os R$ 6.400, tem sido re-
servadaquasetodofimdesemana.
E, sua opinião,oshotéismaiseconômicos
serãoos maisafetadospela pandemia.“Es-
ses terãoproblemasseríssimos,porqueas
empresasparecemdecididasa substituir al-
gumasviagenspor chamadasde Zoom”,
afirma.“No meu caso édiferente,pois aten-
demoso topoda pirâmide.Gestoresde
áreas,os ‘heads’das companhias,essesnão
vão deixarde viajar, mesmoem se tratando
de empresasdecididasacontinuarem ‘ho-
meoffice’parasempre.”
Ele até espera ser beneficiado pelanova
conjuntura. “Hóspedes quenormalmentefi-
cam só de um atrês dias estãoestendendo a
estadia paraaproveitar melhor o destino.É
uma consequência do advento do ‘home offi-
ce’, que permite que vocêtrabalhe de qual-
quer lugar. Acho que viagens maislongas es-
tãovirandoumatendênciaporcausadisso.”
Outratendênciaqueenxergaparaosetor
é ado fortalecimentodo turismode lazer
no Brasil.“Comas dificuldadesimpostas
pela pandemiapara viajarpara oexterior, o
brasileiroricoredescobriuopaís.Genteque
faziaaté oitoviagensinternacionais por
ano viu que temosdestinos maravilhosos”,
observa.“Issodeveturbinarosetor.”
Não à toa, Filgueiras planejainaugurar
mais dois hotéis de lazer, um em Foz do Igua-
çu, no Paraná,e outro perto de Alter do Chão,
que virouum dos destinos maisdescolados

noPará.Estãoaindanocampodasideias.
E aindatem o Emilianode Paraty,este em
fase de desenvolvimentohá umadécada,
mas, graçasa entraves relacionadosa licen-
ças ambientais, aindasem prazoparasair
do papel.Foi projetadopeloescritóriode
arquiteturainglêsFoster and Partners,o
mesmodo Estádiode Wembley,na Ingla-
terra.Inspiradonos hotéisque viraramsi-
nônimodas IlhasMaldivas,terá 30 quartos
de 180 m^2 a 280 m^2 ,além de 33 vilas,tudo
espalhadoporumaáreade730milm^2.
Para oEmilianoRio ele projetauma rápi-
da retomada.“O hotelperdeuseis meses,
mas voltoucombastanteforça”, conta. “A
previsãoparadezembroé excelente,tere-
mos o Réveillonmaisbrasileirodos últimos
50anos.”Aexplicação:onúmerodecariocas
quenãovaiarredaropédacidade,emrazão
dasdificuldadesparaviajarforadopaís,será
bem maiorque ohabitual,e maismorado-
res de outrosmunicípiosdevemdar priori-
dadeao Rio comodestinode férias.“Quan-
do os turistasestrangeirosvoltarem,aí o ce-
nárioserátotalmentefavorável”,aposta.
Erguidoem frenteà praiade Copacaba-
na, no posto6, o Emilianocariocapassou
por uma reformaantesde voltarà ativa.Em
resumo,o“rooftop”,onde se encontraapis-
cina,de bordainfinita, foi repaginadopara
aumentaroespaçodobaredescortinarme-
lhor ooceano.Novidade:agoraobar dali
tambématendeos não hóspedes, mediante
reserva.“Os cariocasjá frequentavam bas-
tanteohotel,principalmenteoEmile,e
agoratêmmaisumaopção”, afirma.

CLAUDIO BELLI/VALOR
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