Crescer - Edição 324 (2020-11)

(Antfer) #1
CRESCER 55

Omomento exigemesmo queasfa-
mílias adaptemavida eseusrituais,se-
gundoapsicól ogaHelenaAguiar, da
MaternidadePerinatal (RJ).“Épreciso
viverumlutodoque nãoaconteceue,
assim, construir novossonhos. Porque se
agrávida se apegar demaisao quepode-
riater si do,não conseguirá sevincular ao
presente”, dizaespe cialista.


PLANEJAMENTO
Enquanto avacinanão chega, apergun-
ta quenão quer calaré:quandoserá
100% seguro engravidar?“Há umacor-
rida doslaboratór iosparaque elaesteja
pronta em breve, masprovavelmente a
vacinaçãoemlarga escaladeve levar
mais um ano. Aindaassim,não vejo mo-
tivo para queaspessoastenhammedode
planejar suas famílias”, dizBurlacchini.
Para ele, aescolha temdelevaremconta
fatorescomoasaúdedamulherantes de
engravidar (nutriçãoedoençascrônicas
controlada s),asegurançanotrabalho
(delaedos demaishabitantes da casa)eo
acessoaoatendimentomédico. “Naver-
dade,semprefoi importante pensar nes-
sesdetalhes”,completa.
No entanto, nãopodemos esquecer
queoorçamento familiar também vai
pesar mais do quenunca na decisãode
muitas famílias.Deacordocom previ-
sões do FundoMonetário Internacio-


nal, aatividade econômica do Brasil
deve encolher 5% este anoemvirtude
da crisepor contadapandemia–a
maiordesaceleração econômicamun-
dial desdeaGrandeDepressão nos
anos 1930.Uma pesquisafeita pelo
InstitutoGuttmacher, organização
cujo foco éasaúdereprodutiva,mos-
trou queumterço dasnorte-america-
nasdecidiu adiaragestaç ão outerme-
nosfilhos porcausa do coronavíru s.
No Brasil,não temosestatísticas que
mostremcomportamentossemelhantes.
OeconomistaMosárNess, professor da
área de Ciências SociaisdaUniversidade
de Caxias do Sul(UCS),entretanto,
acredita quepodemos espe raruma retra-
çãopor aqui também em 2021.“Alguns
fatorespodem desestimular as famílias
no atualcenário.Alémdarenda tercaído
de modo geral, a smulheressão maisafe-
tadaspelodesemprego.Ecom as escolas
eascreches fechadas,ohomeofficeéum
desafio para quem tem filhos”,conclui.
Porumlado, as colocações do espe-
cialistafazem sentido,poroutro,a
quarentena está sendoprodutiva para
muitos casais.Noconsultórioda gine-
cologistaeobstetraCarolinaAmbro-
gini,doProjetoAfrodite, daUnifesp
(SP), houveum boomdegestações.
“Com maistempoemcasa emenos
opções de lazer, os casais tiverammais

relações sexuais. Atéporque osexo
também alivia oestr esse”, afirmaaes-
pecialista, quetambémécolunistada
CRESCER. AadvogadaGabriela
Morette,38, porexemplo, queémãe
de umameninade4anos,estána22ª
semana de gestaç ão.“Sempre quis
dois filhoseaté passou pelaminhaca-
beçaadia r. Mastivereceio porconta
da minhaidade”, diz.

NOVAREALIDADE
Semprevisãoparaofim da pandemia
–alguns pesquisadores,aliás,acredi-
tamque onovocoronavírus setorne
sazonal, como outros víru srespirató-
rios –,ojeito éaprenderaconviver com
oque temos. Se você está grávidaou
pretendeficar em breve, adicadapsi-
cólogaHelena,daPerinatal,éfocarnos
aspectos positivos. “Antigamente,a
gestaç ão eraencaradacomoumadoen-
ça.Hojeéooposto,agrávidaéincenti-
vada adar contadetudo:tem de ficar
bonita esaudável, fazeroenxovalno
exterior,trabalhar atéoúltimo dia...
Fomosdeumextremo aoutro.Nesse
contexto,apandemiaserviuparaages-
tanteolhar mais para dentrodesimes-
ma eencarar as próprias emoções. Algo
quenão faziaantes porque estava ocu-
padademais”,diz.Muitasgrávidas,
como Gabrie la,estão curtindo aopor-
tunidade detirarumcochilo no meio
do dia, se necessário,pararepor as
ener gias.Paula,agora no puerpério, co-
memoraoapoio do marido 24 horas
pordia,setediaspor semana,paradivi-
dirasnovas responsabilidades.
Para aadministradora Rebeca Ribei-
ro*, 43,que interrompeutemporaria-
menteseu tratamento de reprodução
assistidapor causadocoronavírus,ter
um filho no meio de umapandemiaé
um atoquase revo lucionário.“Enquan-
to omundo só fala de morte,cadabebê
quenasce éaprova de queavidaresiste
econtinua”,reflete. Éesseoespírito!
*NOMETROCADOAPEDIDODAENTREVISTADA

Semprevisãopara ofim da
pandemia,ojeitoéaprender a
conviver comanova realidade
efocarnosaspectosposit ivos
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