Crescer - Edição 324 (2020-11)

(Antfer) #1
CRESCER 77

Aceitaçãoeamor próprio


Você provavelmentejáouviu aquela analogia
sobreasmáscarasdeoxigênionoavião.Antes
de decolar, os comissáriosavisamque,emcaso
de emergência,osadultos sempre precisam ga-
rantir aprópr ia integridade antesdecomeçara
protegerascrianças. Essamesma lógica vale
para os relacionamentosemfamília.Antes de
ensi narsobre aceitaçãoeautoestima,ospais
devemtrabalhar para,juntos, construírem esse
ambiente de acolhimento.
“A segurançaemocional da criançavem da-
quiloqueospaistransmitem.Seorelaciona-
mentocarrega violências ecrít icas,issopodege-
rarinsegurançasebaixa autoestima”, dizLoretta.
Foiexatamenteissoque um estudo da Univer si-
dade deCambridge(ReinoUnido)mostrou.
Mais de 430famíliasforam acompanhadas do
último trimestre da gestaç ão atéo24º mêsdo
bebê.Os pesquisadores observaram queama-
neiracomoos pais se relacionavam afetavadire-
tamenteocomportamentodas crianças.Quanto
mais atritos, mais inseguroseramosfilhos.
Aboa notíciaéque também existe um lado
positivo nessahistória. Se relações ruinsinfluen-
ciam negativamenteas crianças,oopostotam-
béméválido.E,denovo, voltamos àimportân-
ciadoexemplo.Quandoveemque os adultos
lidambem comasdiferençaseaceitam as indivi-
dualidades um do outro, os pequenos ficam mais
segurosparaseexpressar eser quem eles são, sem
medo de julgamentos. “Osfilhos nasc em,mas a
gentecontinuasendoum casal, tendosonhose
vontades próprias. Ao perceber queospaisseres-
peitam etambémpensamemsi, acriança vai
entender na práticaoque éaceitação eamorpró-
prio”, dizErica Mantelli.


Carinhoegratidão


Acredite:umbeij odedespedida ou um abraço depois de um diadifícil
fazemadiferença. Vários estudosjácomprovaram queotoque eoafeto
sãofundamentaisparaodesenvolvimento dascrianças. Masnão ésó
isso.Ter como referência pais quesão carinhososum comooutro tam-
bémémuitopositivo–tanto para os pequenos quanto para os a dultos.
“O sentidodecasal nãopodesumir,ele éaestrutura da família. Nem
sempre ésimples, masépreciso acharestratégias para manter esse
carinhoedesf rutardaprópria companhia”,diz asexólogaCarolina
Ambrogini,colunistadaCRESCER.
Na casa da servidor apública JosiePretto,42, edomédicoanestesio-
logistaGiorgio, 40,essadicaéseguidaàrisca. Todososdias, depois de
jantarem ecolocarem ofilhoGabriel,5,paradormir, eles tiramum
tempo para ficar asós,conversar,tomar um vinho... “A gentecomeçou
aperceber queissocontribuitambémparaaharmoniadacasaeesse
clima mais leve contagia oGabriel”, dizJosie.Ela lembradeumepi-
sódioemque ofilhoficounaporta da sala comuma flor, esperandoa
avó voltar de viagem.“Quando contei acenaparaanossa funcionária,
elafalou ‘É óbvioque eleagiri aassim,ele vê ojeito carinhosocomo
você eoGiorgiosetrata m’.Ouvir isso foimuito especial”, conta.
Eaquivaleumlembrete: sercarinhoso nãotem aver só comde-
monstrações físicasdeafeto.Mesmo casais quejánão vivemmaisjun-
tospodem,sim,mostrarparaascriançasque arelação deproximidade,
preocupação erespeitopermanece.Perguntar se está tudo bem, agra-
decerpor compartilhar as tarefascom as crianças,dizer “por favor” e
“obrigad o” já éumótimo começo.

Diálogoesolução deconflitos


Para apsicóloga Rita Calegari,existeuma confusão sobreoqueenten-
demospor relacionamento saudável.Nofimdas contas,tentarmantera
fachada de “casal perfeito”maisatrapalha do queajuda.Alógicadeque
“meu filho nãopodesaber queestamos passando poruma fase difícil”
precisaser deixadaparatrás.
Quando as cois as nãovão bem, serabertoefranco –usandoobom
senso erespe itando onível de discernimentodas crianças,éclaro–faz
comque elas se sintam mais seguraseentendamque nenhumasituação
édifícil apontode nãoser resolvida. “A gentetem umaideia errada de
quesóasrelaçõesperfeitas ensi nametrazem coisaspositivas.Àsvezes,
omedoeafragilidadeensinam muitomais”,diz.
Énahoradadificuldade, aliás, queospequenos começamaaprender
queosfracas sos econflitosfazem partedoprocesso(eque nãohánadade
errado nisso).“Os pais precisam resolver suas diferenças de formaequili-
bradaeresp eitosa,sempremostrandoque estãotrabalhando para melho-
rar. Esseémaisumjeito de ensinarsobre resiliênciaeadaptação”, explica
Loretta Campos.Umbom exercícioparacolocar em prátic a, não?
Free download pdf