Elle - Portugal - Edição 385 (2020-12)

(Antfer) #1
FOTO: LIAM GOSLETT

ESTILO


32 ELLE PT


a campainha,Stuartolhaatravésdelas– umrostosorridente
amigável.«Olá!Entra»,dizele estendendo-meumbraço
parameguiarparadentro.Veversé conhecidoporsercaloroso.
Perguntea quemquiser,todoslhevãorespondero mesmo:“O
Stuart?Eleé adorável!E muitodivertido!Eleumapessoaver-
dadeiramentedecente”.Masse estapessoaamorosaforo último
a passara marcadameta,o casomudadefigura.Desde 2013
queVeversé o diretorcriativoexecutivodaCoach– umamarca
deacessóriosamadapelosamericanosdesde1941.Durante
anos,todasas pessoastinhaumacarteiraCoachnoseuarmário
(desdeas jovensrecém-licenciadasda faculdadeàs mulheresque
viviamemzonasmaisrurais).Asmãescompravamcarteiras
Coachparafilhas;as filhascompravamparaas suasfilhas;e as
suasfilhascompravam...bem,já percebeua ideia.Istosignifica
que,ao longodasdécadas,a carteiraCoachpassoua representar
algomaisdoqueumsímbolode bomgostonorte-americano.
Tornou-seumsinaldequese estavanocaminhocerto.Masa
certaaltura,tudodeuparao torto.Nãosó paraa Coachmaspara
todascarteirasquenãoeramumaIt Bag(umacessórioqueé
sinónimode statuse quefezcomqueas adoráveiscarteirasque
existiamantesdelasnãotivessemhipóteses).Se umacarteira
Coachpassavaa mensagemde estarmosnocaminhocerto,a It
Bagproclamavaquejá tínhamossingradonavida.

ãodeixadeserirónicoqueo homemresponsável
pelofenómenoda It Bag(Veversdesenhouo Emmy
na Mulberry,a Gisellena Luella,atualizouo Ama-
zonanaLoewee estáa criarumenormefrenesim
coma TabbynaCoach)tenhasidocontratadoparadaruma
novavidaà empresalíderdemercadoemartigosempeledos
EUA.Nãoquea Coachestivessea perderterreno;muitopelo
contrário.QuandoVeversentrou,trabalharlá aindaeraalgo
muitodesejadonosEstadosUnidos.A Coachsimplesmentenão
faziapartedocírculorestritoda moda.E a Tapestry,a empresa
proprietáriadaCoach(assimcomodaKateSpadee daStuart
Weitzman),queriainverteressasituação.
O queVeversconseguiunumcurtoespaçodeseteanos
foiquaseummilagre.Desdequeentrounamarca,em2013,
tornoua Coachumamarcaqueandana bocadaspessoase pela
qualas celebridadesesperavamreceber“umachamada”.Ele
deu-lheatitudee, acimadetudo,umaidentidadefortecoma
qualas mulheresse podemidentificar.Bastaveros desfilesda
marca(introduzidosporVeversemSS16)querapidamente
vai ter uma ideia de quem é a cliente Coach: uma mulher con-
temporânea que incorpora o espírito americano de uma forma
única. A mulher Coach é a versão adulta da miúda “beta” que
não queríamos encontrar durante um programa de Erasmus.
A palavra ‘cool’ surge muitas vezes quando falamos sobre
Vevers. Mas podemos dizer que isso é tanto um elogio como
algo problemático. Afinal, como é que alguém pode reivindi-
car a propriedade sobre algo que é tão pouco palpável? Isso é

algoqueo intriga.A suacasatambémé umexemploperfeito
doseuladocoollow-key.Hámadeiraescuraemtodaa parte,
umasescadascomumar artesanale livrosdearteempilhados
ordenadamentenasprateleiras.
Veverstem 47 anosagora,emborapareçamuitomais
jovem.Temumaspetocalmoe atento,comoo deumaper-
sonagemdeumapinturamedieval,sóquemaisbonito.
Quandonosencontramos,estácomumdaquelescoordenados
minimalistasqueas pessoasdamodagostam:umacamisola
preta,umacamisae umascalçasdeganga.O lookdefineo
próprioVevers– simples,semesforço.Perguntose eleainda
se consideracool,mesmoestandopertodos50.«Achoque
é muitodifícilconsiderarmo-nosumapessoacool»,diza
rir.«Existemcertascoisaspelasquaismesintoatraídoque
estãoassociadasa essapalavra».Fazumapausa.«Achoque
semprefuifascinadopelacontra-culturae poraquelaonda
maisjovem.A minhainterpretaçãoé queo conceitodecool
estáassociadoa umladodespreocupadonaformacomonos
comportamos.Tema vercoma capacidadedeacreditarmos
emnósmesmos,mascomumapitadaderebeldia».
Autoconfiançae umacertadosederebeldiaestãonosan-
guedeVevers.CresceunonortedaInglaterra;nãonaagitada
Manchesterounouniversoclubdosanos 90 emLeeds,mas
(primeiro)emDoncaster,depoisemCarlisle.O paierapintor
e a mãeeraempregadadoméstica.«Elesderam-mea parte
daéticanotrabalho»,dizcomumserradosotaquedonorte.

uandodecidiquequeriafazermoda,o meupaifoi
contra»recorda.«Osmeuspaisdeixarama escola
aos 15 anos– emborao meupaitenhavoltado[para
a escolanoturna]porquequeriafazeralgomais
pelasuafamíliae porsi mesmo– e incutiramemmimesse
sentimentode perdapelasoportunidadesquenãotiveram.Na
verdade, acho que o meu pai deixou de estudar porque os meus
avós não conseguiam pagar o uniforme...» remata.
O seu interesse por moda surgiu de dois lados. Primeiro,
uma avó que fazia figurinos para uma companhia de teatro
amador e, mais tarde, através de um interesse pela noite do
norte de Inglaterra na década de 1990.
«Aprendi sobre moda em casas noturnas», diz com natu-
ralidade. «Desde muito novo que sou alto, então comecei

«ACHO QUE SEMPRE FUI FASCINADO
PELA CONTRACULTURA.
A MINHA INTERPRETAÇÃO DO QUE É
[COOL] ESTÁ ASSOCIADA A
UM LADO DESPREOCUPADO NA FORMA
COMO NOS COMPORTAMOS.»

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