Elle - Portugal - Edição 385 (2020-12)

(Antfer) #1
MAQUILHAGEM: KARA YOSHIMOTO/ SWA - CABELOS: JENNY CHO/SWA - PRODUÇÃO EDITORIAL: ESTELLE GERVAIS - ASSISTENTE DE F

OTOT

GRAFOA: YOLANDA LEANEY; AMANDA YANEZ - ASSISTENTE DE STYLING - MCCALL O’BRIEN - ASSISTENTE DE MAQUILHAGEM: PIRCILLA PAE.

STARS


60 ELLE PT


OH NUNCA VACILOU em relação ao queria fazer. O desejo
de ser atriz tornou-se a sua prioridade no secundário, o que
a levou a juntar-se a grupos de improvisação e a realizar
espetáculos para os seus pais sul-coreanos e os seus dois ir-
mãos. Pergunto-lhe como é receber tantos elogios. «É bom
saber que as pessoas estão entusiasmadas com o que estou a
fazer – especialmente quando se tem uma carreira [de forma
teatral, baixa a voz para um sussurro] com décadas». A atriz
pode brincar sobre a duração da sua carreira, mas assume
o seu lado determinado e confiante de forma confortável,
sem pedir desculpas. «A Sandra é intensa quando está a
interpretar um papel, e digo isto no melhor dos sentidos»,
diz Rhimes, explicando que Oh entrava a correr no seu es-
critório todas as semanas, com os guiões cheios de anotações,
fazendo inúmeras perguntas sobre as escolhas de palavras
e motivações da personagem. «Isso deixava-me louca e
deixava-me muito feliz ao mesmo tempo», diz Rhimes. «A
Sandra queria fazer sempre o melhor possível. Ela consegue
melhorar qualquer coisa que tu escrevas – ela mergulha na
personagem e preocupa-se profundamente. Não consegues
ter uma conversa superficial com a Sandra».
A profundidade do trabalho de Oh nota-se em cada epi-
sódio de Killing Eve. No ecrã, a química entre Oh e Comer
é palpável. «Tenho uma conexão muito profunda com ela»,

diz Oh. «Quando nos juntamos,existeumagrandeconfiança.
Estamos a motivar-nos uma à outra. Confiamos neste espaço
de alquimia entre nós. Ela confia nos seus instintos, assim
como eu confio absolutamente nos meus».

NA SÉRIE, AS PERSONAGENS de Oh e Comer podem ser
semelhantes nas suas ambições e obsessões, mas há um
vencedor claro quando o assunto é estilo. Villanelle desfila
em fatos Chloé e casacos J.W. Anderson, enquanto Eve opta
por golas altas e casacos confortáveis. «Isso mata-me!», diz
Oh quando menciono esta discrepância. «Vou até ao guar-
da-roupa e vejo as roupas daquela vadia e fico tipo: “Posso
vestir algo qu não seja Uniqlo? Não?”».
A atriz ri-se, mas fica séria quando o tema é a enorme
importância da moda no programa. O guarda-roupa de Eve
mostra, de forma subtil mas crucial, a sua metamorfose e como
a personagem de Oh é influenciada pelo estilo sofisticado
de Villanelle. «Eve está sempre em tons neutros e básicos,
certo?» diz Oh. «Ela é sempre terrena, com as suas inúmeras
golas altas. A beleza está na forma como ela muda. Eve muda
de tecido, de silhuetas, de formas». À medida que se vai
aproximando de Villanelle, por exemplo, Eve deixa de usar

o seu habitual sobretudo de linhas masculinas e troca para
uma opção mais feminina; as suas peças passam de oversized
para mais justas, «Mas todas estas opções mantêm-se na
paleta de cores que a personagem usa», remata.

ANTES DE DOMINAR A TELEVISÃO, Oh passou pelo cinema
em filmes como Last Night, Sideways e The Diary of Evelyn
Lau e, mais recentemente, mostrou o seu sentido de humor
incrível no Saturday Night Live e nos Globos de Ouro de
2019, quando apresentou a cerimónia com Andy Samberg.
Oh foi a primeira mulher asiática a fazê-lo. («Fiquei apavo-
rada à séria, mas foi por isso mesmo que o fiz».)
Ultimamente, tem-se falado muito sobre a representa-
tividade em Hollywood, especificamente sobre atores de
minorias que são escolhidos para papéis “daltónicos” (onde
as especificidades da raça são abolidas) ou que reforçam o
estereótipo de que apenas alguém com uma determinada
aparência pode desempenhar um papel de protagonista.
«Agora estou num ponto da minha carreira em que estou
especificamente interessada em papéis que explorem a raça
de uma personagem», diz Oh. «Porque posso, é verdade, e
porque quero que as conversas da humanidade eventualmente
evoluam para um lugar em que se reconhece que a diferença é
importante. Por exemplo, se for uma série sobre uma revista

demodanaqualo diretoré negro.A personagemnãopode
ser escrita sem abordar a história que a envolve. Mas essa
tem sido a narrativa desde que existimos».
Segundo a atriz, essa abordagem unidimensional faz pouco
sentido, porque todos nós sabemos, por experiência, como
a raça ou cultura de uma pessoa influencia as suas escolhas
ou a forma de encarar o mundo. «Os asiáticos-americanos,
principalmente da minha geração, quase se escondem se
ouvirem um sotaque [no ecrã] pelas conotações racistas
automáticas implícitas e por sentirmos que não estamos
no comando da nossa própria história», partilha connosco.
Isso é algo que está a mudar com as gerações mais jovens,
o que deixa a atriz otimista, principalmente porque sente
que teve um papel de educação ativo a esse respeito. «Estou
muito feliz por ter contribuído para isso», diz.
Quando finalmente terminamos o nosso brunch, Sandra
Oh afasta a sua chávena de café vazia ligeiramente para o
lado e reflete sobre a sua motivação atual para trabalhar.
«À medida que amadureces, começas à procura de um
propósito, de uma conexão com o mundo», afirma. «Tra-
balhas para a tua vida ter um sentido – se o conseguires
encontrar é uma verdadeira bênção!». QV.C.

«DECIDIQUE SÓ VOUINTERPRETARPERSONAGENSQUESÃO
ESSENCIAIS PARA A NARRATIVA ENÃO PODEM SER ELIMINADAS.»
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