Adega - Edição 181 (2020-11)

(Antfer) #1

Revista ADEGA - Ed.181 | (^57)
Durante o século XVIII, alguns
proprietários ajudaram a desenvolver
novos métodos vitivinícolas. Combret
de la Nauze e Jacques Kanon, em
particular, foram engenheiros
agrônomos que realizaram um
trabalho importante que resultou na
seleção de certas variedades de uvas.
Foi com esta atenção às características
do terroir que começou a nascer o
conceito de “cru” para os melhores
vinhos.
Em 1884, os viticultores de Saint-
Émilion fundaram a primeira União
de Viticultores na França, que se
tornou a primeira cooperativa vinícola
na área de Bordeaux em 1931. E em
1948, os viticultores restauraram o
famoso Jurade – dissolvido durante
a Revolução Francesa – que ainda
hoje funciona e preserva algumas
das tradições medievais, como suas
vestimentas com robes vermelhos
durante algumas festas da cidade.
Classificação e divisão
A primeira classificação dos vinhos
Saint-Émilion pelo INAO, o Instituto
Nacional Francês, que regulamenta
as denominações, ocorreu em 1954,
quando quatro denominações foram
definidas: Lussac Saint-Émilion,
Puisseguin Saint-Émilion, Saint-
Émilion e Saint-Émilion Grand Cru.
GARAGISTAS
Em 1989, junto com sua esposa,
Murielle Andraud, o ex-bancário
Jean-Luc Thunevin adquiriu uma
pequena parcela de vinhedos
de aproximadamente 2 hectares,
chamada originalmente de Vallon
de Fongaban, que continha vinhas
de 30 anos. Em 1991, depois de
uma geada em que mais de 75%
das frutas foi perdida e de ter
empregado muito trabalho, o casal
produziu 106 caixas de um tinto
cujo nome é a combinação entre
o nome original da propriedade e
o sobrenome de Murielle: Château
Valandraud. Até aí, nada de mais.
Ocorre que, naquela safra, as uvas
foram colhidas manualmente e
levadas para a garagem do vizinho
de Thunevin. O vinho foi elaborado
através de técnicas que definiriam
o estilo de garagem, todas elas
empregadas por necessidade e falta
de recursos, e não exatamente por
uma veia revolucionária de Thunevin.
Tudo foi feito manualmente desde a
colheita, até a seleção, o desengaço
e a prensa das uvas, bem como o
pigéage (rompimento do chapéu
de massa sólida do vinho durante o
processo de fermentação). Somente
em uma coisa Thunevin não
economizou, no uso de carvalho
novo, onde o vinho permaneceu por
12 meses antes de ser engarrafado.
Essas técnicas nunca tinham sido
executadas de forma conjunta antes
em Bordeaux. Por essas e outras,
ele teve até mesmo vinho “proibido”.
Tamanho sucesso assombrou e
incomodou a velha guarda de
Bordeaux, tornando o viticultor uma
espécie de “ovelha negra” da região.
Robert Parker, ao degustar seus
vinhos, o apelidou de “o Bad Boy
de Bordeaux”. E assim criaram-se
as bases para o movimento que se
denominaria de “garagista”.
Região une produtores
tradicionais e também
inovadores, como Jean-
Luc Thunevin (abaixo)

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