Adega - Edição 181 (2020-11)

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Revista ADEGA - Ed.181 | (^89)
históricos, certamente veremos que
eles dificilmente eram como são
hoje em dia. No curso dos séculos,
algumas mudanças foram drásticas,
especialmente nos métodos de
produção.
No século XVIII, por exemplo,
os vinhos tendiam a ser macerados
por algumas horas, um dia quando
muito e passavam até três anos
em carvalho. O pouco tempo de
maceração significava um vinho
de cor extremamente pálida e o
tempo de estágio provavelmente
levava à oxidação e aparecimento
de acidez volátil (avinagrado,
literalmente). A maioria dos tintos
também costumava ser feito com
parte de uvas brancas (inclusive
o mítico Romanée-Conti!, que
levava Pinot Blanc ou Gris). Isso
não é incomum ainda hoje, em
que pequenas porcentagens são
adicionadas em casos específicos e
até mesmo denominações clássicas
como Châteauneuf-du-Pape, por
exemplo, incluem variedades
brancas em seu corte.
Um século depois, nos anos
de 1800, os tempos de maceração
tenderam a aumentar para alguns
dias e o estágio em barrica por
mais anos. Apesar do maior tempo
com as cascas e o consequente
tingimento mais pronunciado na
cor, ainda faltavam taninos para
proteger contra a oxidação do
envelhecimento e os tons acéticos,
com certeza, apareciam.
Para efeitos de comparação,
atualmente as macerações
tendem a durar semanas e o
envelhecimento em barricas de
carvalho vai de poucos meses
a alguns anos dependendo do
produtor, estilo, região etc.
Mas, diferentemente de seus
“antepassados”, o vinho moderno
macera tempo suficiente para
ganhar cor e taninos, e resistir
ao estágio, assim como ao
envelhecimento em garrafa.
Para que o vinho tivesse o leque
de estilos que apresenta hoje, foram
necessários séculos de evolução,
com contribuições essenciais de
monges estudiosos, intrépidos
navegadores, agricultores curiosos,
os mais diversos empreendedores,
pessoas que se dedicaram ao vinho
e transmitiram sua sabedoria
para que a humanidade pudesse
continuar saboreando essa bebida
que nunca para de surpreender.
O primeiro vinho
puro da história
Em 2014, o pesquisador Patrick
McGovern (foto) fez parte de um
projeto que descobriu fragmentos
de cerâmica datados de 6.000 a
5.800 a.C., que mostram evidências
de vinho de uva puro, sem o uso
de resinas. O local da descoberta
estava dentro dos limites da cultura
Shulaveri-Shomutepe, que habitava
o que hoje é o oeste do Azerbaijão,
norte da Armênia e sudeste da
Geórgia. Esta é a primeira evidência
de um vinho feito 100% de uva na
história até hoje, mas McGovern
afirmou que é necessário mais
pesquisas para “ver quão difundido
e duradouro foi esse fenômeno”.
Garrafas de vidro escuro
foram decisivas para a
evolução do vinho

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