Adega - Edição 181 (2020-11)

(Antfer) #1

90 |^ Revista ADEGA -^ Ed.181


Blocos

empilhados


O curioso projeto de Carl Fredrik
Svenstedt para o Domaines
Ott, em Provence

por Arnaldo Grizzo


PELO OLHAR DE UMA CRIANÇA, o prédio
desenhado pelo arquiteto sueco Carl Fredrik
Svenstedt para a família Roederer, dona
do Domaines Ott, na Provence, parece um
grande joguinho de blocos de empilhar.
E talvez não seja um olhar tão ingênuo, já
que esse jovem arquiteto apaixonado por
computação gráfica e construções oníricas
certamente se inspirou nas composições de
“op art” (arte óticas) do final dos anos 1960,
de artistas como Yaacov Agam ou Jesús
Rafael Soto, por exemplo.
Svenstedt notadamente usou a inclinação
natural do terreno, ao longo do eixo norte-
sul. Dessa forma, primeiro vem o pátio, onde
as uvas são colocadas em caixotes, depois a
câmara fria, de onde elas vão cair nas prensas
localizadas num nível inferior. Em seguida,
há duas grandes naves onde os mostos vão
fermentar em cubas de inox ou barricas de
madeira. Por fim, ainda mais embaixo ficam
as salas de engarrafamento, rotulagem e
embalagem. Este caminho gravitacional
é atravessado pelo sentido leste-oeste
de visitantes que entram por uma vasta
praça flutuando sobre a vinha na sala de
degustação em forma de L, com um espaço
claro, revestido de bétula, envidraçado nas
duas naves e emoldurado com as vinhas
distribuindo as áreas de prova e escritórios.
Contudo, o que primeiro chama a
atenção obviamente é o exterior do prédio,

estilo “Jenga” (famoso joguinho de empilhar
blocos). Para isso, o arquiteto usou material
de uma pedreira que data da construção da
Pont du Gard, famoso aqueduto romano
da região. Assim, ele ergueu uma parede
composta apenas por blocos de calcário
de 1 metro por 1 metro e 50 centímetros
de espessura. Os blocos não estão
emparelhados, mas são mantidos em cima
um do outro apenas pelo peso, fixados por
selos de metal invisíveis para melhor resistir
aos fortes ventos da região.
Eles se erguem em fileiras escalonadas
e em um pequeno ângulo, como escamas
de peixes. Eles se afastam um do outro nas
pontas ao mesmo tempo que concentram no
centro para compor uma grossa blindagem
térmica que permite isolar do calor e da luz.
Nas extremidades, blocos são empilhados
para compor pórticos que lembram um
pouco da arquitetura neoclássica dos anos


  1. Tudo isso forma um “tabuleiro de
    xadrez” de pedra ocre.
    Dentro e fora, a disposição dos blocos
    de pedra forma um jogo de luz e sombra
    que torna ainda mais monumental o
    edifício erguido em Taradeu, na região de
    Var, em Provence, que serve de local de
    produção do histórico Château de Selle



  • a primeira propriedade adquirida por
    Marcel Ott em 1912, não muito distante da
    Abadia de Thoronet.


ARQUITETURA
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