Aero Magazine - Edição 318 (2020-11)

(Antfer) #1
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COMO M E


PREPARO PAR A


VOAR NO VERÃO?


Temperaturas elevadas, tempestades
no fim do dia, pistas molhadas...

O


verão se aproxima e quem
voa precisa se cercar de
cuidados para lidar com
condições climáticas extremas,
como ventos, chuvas fortes e calor
excessivo. Elas têm um impacto
direto não apenas no voo, mas,
também, e com igual influência,
nas aeronaves paradas no solo.
Em primeiro lugar, as chuvas
de verão, provocadas de forma
isolada por nuvens cúmulos-nim-
bos, os famosos CBs, impedem,
sim, a decolagem e o pouso de ae-
ronaves quando estão desaguando
sobre aeroportos, exigindo dos
pilotos desvios de rota. Nessas
condições, é necessário alternar
para evitar que a aeronave seja
atingida por raios, pedras de gelo
ou ventos intensos – que, em
algumas condições, podem até
derrubar uma aeronave. No caso
de pistas encharcadas, é também
preciso avaliar o risco de perda
de controle do avião por aquapla-
nagem (quando uma camada de
água impede o contato dos pneus
da aeronave com o solo).

SOL FORTE
Apesar da fama do verão em tor-
no dos CBs, há fatores associados
à ação do sol que também devem
ser considerados. A começar pelo
uso de óculos escuros por tripu-
lantes e passageiros. Trata-se de
um item obrigatório, principal-
mente quando voamos sobre as
nuvens ou diretamente contra o

sol na alvorada ou no crepúsculo.
O boné é mais um acessório
recomendável, porque pode ajudar
muito a nos proteger da incidência
direta do sol. Em aeronaves com
tetos translúcidos, pilotos calvos
podem sofrer queimaduras graves
no couro cabeludo ao ignorarem a
exposição direta da luz solar sobre
a cabeça.
Em solo, o calor causado pelo
sol forte precisa ser considerado
por pilotos e proprietários de ae-
ronaves. A incidência direta da luz
e do calor nas aeronaves pode res-
secar assentos em couro e reves-
timentos das laterais, manchar a
pintura e, em casos mais sérios, até
derreter os terminais que conec-
tam instrumentos e equipamentos


  • já que os acabamentos escuros
    usados nos painéis favorecem a
    absorção do calor. Em aeronaves
    fechadas por muitos dias aguar-
    dando o próximo voo sob clima
    quente e expostas ao sol, existe o
    risco de a temperatura interna da
    cabine sofrer aumento extremo,
    superando os 90 graus Celsius.
    Nessas situações, o uso de pro-
    tetores refletivos do lado interno
    da aeronave ou de capas externas
    que cubram toda sua fuselagem
    pode evitar danos ocasionados
    pelo calor. Mas é importante veri-
    ficar com o fabricante da aeronave
    se há restrições de uso de ventosas
    nos para-brisas e vigias, principal-
    mente no caso de aeronaves pres-
    surizadas com sistemas antigelo. A


utilização de materiais incorretos
pode levar a delaminações.
Do ponto de vista operacio-
nal, o sol também tem influência
sob o plano de voo. Em dias mais
quentes, podem haver restrições
imprevistas de peso por causa da
diminuição da densidade do ar
(que reduz a sustentação das asas e
a eficiência do motor), sobretudo
em aeródromos elevados.
Em voo, o sol atrapalha a visão
dos pilotos. Mesmo em pistas
perfeitamente alinhadas, durante
o nascer ou o pôr do sol, podemos
ter problemas de segurança. Hou-
ve um famoso caso no aeroporto
de Guarulhos em que um Airbus
A340 vindo da Europa pousou
em uma pista de táxi sentido
cabeceira 27. Por sorte, não havia
nenhuma aeronave na taxiway
naquele momento e o episódio
não teve grandes consequências.
Ao entrevistar o piloto, a investi-
gação concluiu que sua visão foi
ofuscada pela névoa seca e os raios
solares alinhados à pista. Para
quem tiver curiosidade, o relatório
dessa investigação está disponível
no site do Cenipa.
Por fim, é importante lembrar
que um tempo CAVOK, com
céu de brigadeiro, não exime os
pilotos de efetuar um planejamen-
to adequado para o voo no que
diz respeito não só à operação da
aeronave em si, mas, também, a
nossa saúde e nosso bem-estar a
bordo.

AERO RESPONDE

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