Aero Magazine - Edição 318 (2020-11)

(Antfer) #1
|^ MAGAZINE^318

ENSAIO EM VOO


POR | LUCAS SANCHES AZEVEDO E PEDRO PAULO GRELA ANUNCIAÇÃO*,
DE POÇOS DE CALDAS, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
FOTOS | DIVULGAÇÃO (JOSÉ BALILA GRELA ANUNCIAÇÃO)

O CANTO DO


U I R A P U R U


Pilotamos o treinador A-122, que ficou conhecido na AFA tanto pela


designação T-23 como pelo apelido de Zarapa, e colocamos à prova


uma lenda aeronáutica fabricada há mais de 30 anos


I


nspirado no projeto da
aeronave Falcão A-80,
desenvolvido pelo enge-
nheiro José Carlos de Sousa
Reis no início da década de
1960, quando trabalhava para a
Avibras Indústria Aeroespacial,
em São José dos Campos, inte-
rior de São Paulo, o monomotor
Uirapuru A-122 marcou época.
Ele nasceu da parceria entre José
Carlos com outro engenheiro,
Carlos Gonçalves, este proprie-
tário da Sociedade Aerotec,
também sediada no Vale do Pa-
raíba. Os projetistas criaram um
avião monoplano de asa baixa
biposto com assentos lado a lado
e duplo comando. O primeiro
protótipo, o PP-ZTF, realizou seu
voo inaugural em 2 de junho de


  1. Mas a versão final ainda
    exigiria aprimoramentos, após
    um trágico contratempo.
    Por ocasião de seus 77 anos
    de existência, o Aeroclube de Po-
    ços de Caldas, situado no sul do
    estado de Minas Gerais, respon-
    sável por manter em condições de
    voo um Uirapuru A-122B, o PP-
    -KBO, organizou este ensaio em


voo para demonstrar as virtudes
de um dos clássicos da indústria
nacional. Com o número de série
A122 (uma bem-vinda coinci-
dência), o avião foi fabricado
em janeiro de 1978, último ano
de produção do Uirapuru. Ele
chegou ao aeroclube mineiro em
fevereiro de 1993 e, desde então,
participou da formação de cen-
tenas de pilotos na escola. Hoje,
é um dos poucos Zarapas, como
ficou conhecido na Academia da
Força Aérea, em condições de voo
no país.

INSPEÇÃO
O Uirapuru repousa imponente
no pátio do aeroclube. Como é
um avião side by side, subimos
pela asa esquerda. Há uma trava
em cima da capota. Ela é corre-
diça e se abre quando a empurra-
mos para trás. Dentro do avião,
checamos se a chave seletora está
na posição aberta ou fechada,
verificamos a situação dos cintos
de segurança e puxamos a ala-
vanca manual do flap. Só então
descemos da asa e iniciamos
a inspeção externa, indo em

direção à cauda, observando mi-
nuciosamente toda a fuselagem e
verificando a situação de antenas
e da tomada estática. Analisamos
as superfícies dos estabilizadores
horizontal e vertical e movi-
mentamos tanto o leme (para os
lados) como o profundor (para
cima e para baixo), checando se
há algum travamento, se as con-
dições dos cabos são satisfatórias
e se os parafusos de fixações
estão contrapinados. Ainda na
cauda, verificamos a luz de po-
sição antes de passar para o lado
direito da aeronave.
A estrutura da fuselagem é
semimonocoque (ou seja, tem
a superfície de revestimento ex-
terno reforçada por longarinas e
tabiques verticais). Inspeciona-
mos na asa direita o flap ventral
e os aileirons (movimentando
para cima e para baixo). Passa-
mos pela ponta da asa, reparan-
do se a luz de navegação não
está solta ou quebrada, antes de
chegarmos ao bordo de ataque,
onde checamos a condição do
farol, o trem principal e o pneu
(se está devidamente calibra-
Free download pdf