Aero Magazine - Edição 318 (2020-11)

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irassununga, interior de
São Paulo. Academia
da Força Aérea. Tempo
bom, dia claro. Estamos
a postos para um voo
de formatura, com quatro aviões.
Tudo devidamente planejado,
com atenção especial à sincronia,
privilegiando sinais por gestos,
para evitar o excesso de comuni-
cação via fonia. Durante o check
antes da decolagem, uma aeronave
de instrução em pane realiza um
pouso com prioridade. Felizmen-
te, a manobra do cadete transcorre
sem maiores problemas e agora é a
nossa vez.
Aceleramos juntos e deixamos
o solo exatamente às 14h15, os
quatro aviões lado a lado, em uma
razão de subida média. À esquer-
da, avisto a aeronave número 1911
recolhendo seu trem de pouso. O
belo céu azul toma a parte supe-
rior da cabine e algumas poucas
nuvens cúmulo no horizonte
traduzem os 30 graus de tempera-
tura de uma tarde ensolarada. Pre-
cisamos de apenas alguns minutos
para subir a sete mil pés. Do alto,
vejo os aglomerados urbanos das
pequenas cidades que fazem parte
da área de instrução. Sem margem
para erros, o comandante do voo
controla o manete de potência e o
manche simultaneamente. É um
trabalho de pura precisão durante
o qual as referências visuais se
mostram fundamentais para
manter as aeronaves tão próximas
umas das outras quanto o nível de
segurança para a missão permite.
Perfazemos uma sequência de
manobras, muitas delas acrobá-
ticas, incluindo um “meio oito
cubano”, um “looping” e um “oito
preguiçoso”. Sem saber o que o
piloto militar em comando faria

a cada movimento, experimento
variações da força da gravidade
e vejo constantemente o céu e o
chão trocarem de lugar. No fim
do voo, a cereja do bolo. Man-
tendo os 90 nós de velocidade
previstos para a aproximação final,
alinhamos para o pouso no centro
da pista e tocamos suavemente
o asfalto do Segundo Esquadrão
de Instrução Aérea (2º EIA). Um
típico “pouso manteiga”, executa-
do com maestria. Volto no tempo,
quando ainda era cadete da Força
Aérea Brasileira, nos anos 1990.
São quase três décadas resumidas
em uma hora a bordo do icônico
Neiva Universal T-25, um incansá-
vel treinador militar da FAB.

UM PROJETISTA NOTÁVEL
O “Tangão”, como é conhecido
entre os militares, uma alusão ao
T do alfabeto fonético interna-
cional (na Aeronáutica, alfabeto
Zulu), sucedeu outros dois clássi-
cos. No final da década de 1950, a
FAB contava com duas excelentes
aeronaves de treinamento, o
Fokker T-21 e o lendário North-
-American T-6. Mas, àquela
altura, era grande a dificuldade de
se encontrar peças de reposição,
todas importadas, para ambos os
aviões, já veteranos. Em 1962, o
então Ministério da Aeronáutica
iniciou um planejamento para
substituir o T-6 no treinamento
avançado dos seus pilotos. Assim,
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