Clipping Banco Central (2020-11-22)

(Antfer) #1

O risco de uma geração


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
domingo, 22 de novembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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A crise desencadeada pela pandemia de covid-
poderá aprofundar ainda mais a desigualdade
econômica e social no País, uma de nossas mais
renitentes mazelas. A necessidade de contribuir para a
renda familiar, ou mesmo para garantir a própria
subsistência, pode levar milhões de jovens de baixa
renda a abandonar os estudos em busca de um
emprego. No limite, o ano letivo perdido poderá subtrair
R$ 1,5 trilhão da renda dos brasileiros nos próximos 50
anos, de acordo com uma projeção feita pelo
economista Ricardo Paes de Barros, do Insper, um dos
maiores especialistas em desigualdade no País.


Cada ano de estudo perdido limita a oferta de
oportunidades de trabalho para esses jovens e,
consequentemente, sua remuneração. Esse déficit
educacional é um desastre individual e coletivo. O
jovem com baixa escolaridade terá de superar barreiras
praticamente intransponíveis para construir um futuro
melhor para si e sua família. Com excesso de mão de
obra menos qualificada, a produtividade do País, há
muito tempo um dos entraves para o desenvolvimento,
também tende a cair cada vez mais, alimentando um
círculo vicioso que mantém o Brasil aferrado ao atraso.


O estrago só não se consumará como a pior projeção
feita por Paes de Barros porque uma parte dos alunos
conseguiu manter algum tipo de atividade educacional
por meio remoto em 2020; e porque aquele número
desolador pode servir como um despertar de
consciência para as autoridades responsáveis por
planejar e executar políticas na área de Educação.

A propósito, o que tem feito o Ministério da Educação
(MEC)? Qual será o plano do ministro Milton Ribeiro
para coordenar em nível nacional com os secretários
estaduais e municipais de Educação uma volta às aulas
segura? O Estado tenta obter um posicionamento do
MEC sobre esse tema fundamental para o País desde o
dia 23 de outubro, sem sucesso. No final de setembro,
convém lembrar, o ministro Ribeiro praticamente lavou
as mãos ao afirmar que "acesso à internet e volta às
aulas não são temas da pasta" que está sob sua
responsabilidade. O que haveria de ser, então? Mais
não disse.

Só não se pode afirmar que "lavar as mãos" tenha sido
a tônica da atuação do governo do presidente Jair
Bolsonaro no curso da pandemia porque não foram
poucas as vezes em que o próprio presidente sujou as
suas para, pessoalmente, sabotar ações corretas
adotadas por governadores e prefeitos, amparadas pela
comunidade científica.

A ironia desse descalabro é que Bolsonaro sempre se
defendeu argumentando que buscava "proteger a
economia", cuja debacle, em suas palavras, "mataria
muito mais do que o vírus". Pois é o obscurantismo do
presidente da República um dos maiores riscos à vida e
à atividade econômica nessa hora tão grave para o
País.

Os jovens fora da escola não poderão se beneficiar do
que os economistas e especialistas em educação
chamam de "efeito-diploma". Os alunos que concluem o
ensino médio, em geral, têm um incremento de R$ 212
na sua renda mensal, de acordo com uma estimativa do
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