Clipping Banco Central (2020-11-22)

(Antfer) #1

VERA MAGALHÃES - João Alberto e as urnas


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
domingo, 22 de novembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Casos como o assassinato de João Alberto Silveira
Freitas, de 40 anos, por espancamento seguido de
asfixia numa loja do Carrefour em Porto Alegre, ocorrido
na última quinta-feira, quando acontecem próximos de
eleições, costumam ter o condão de virar tema das
campanhas e mobilizar setores do eleitorado.


O exemplo recente mais rumoroso vem dos Estados
Unidos e tem muitos pontos de contato com o caso
João Alberto: foi o assassinato de George Floyd por
asfixia por policiais em Minneapolis, em maio. Lá como
aqui, a ação dos assassinos foi filmada. A frase repetida
por Floyd, "I cant breath", que significa "Eu não posso
respirar", virou mote de manifestações que cobriram o
país.


O movimento Black Lives Matter, ou Vidas Pretas
Importam, surgido anos antes, ganhou dimensão
nacional e deu força a grupos locais, que tiveram
grande engajamento nas eleições presidenciais e peso
real na vitória de Joe Biden sobre Donald Trump em
Estados como a Georgia.


No Brasil, os casos mais conhecidos de comoção


nacional às vésperas de pleitos são a greve da
siderúrgica CSN em Volta Redonda, em 1988, e o
massacre do Carandiru, em 1992, em que 111 presos
foram chacinados pela Polícia Militar para conter uma
rebelião.

No primeiro, operários da Companhia Siderúrgica
Nacional, ainda estatal, entraram em greve por reajuste
salarial e redução de jornada e tomaram a planta de
Volta Redonda (RJ). Quatro dias depois do início da
greve, em 9 de novembro, o Exército e a PM invadiram
a empresa e três grevistas foram assassinados.

As eleições municipais nas capitais ocorreram no dia 13
e, em São Paulo, venceu Luiza Erundina, feito inédito
do PT numa capital. As pesquisas até as vésperas
apontavam vitória tranquila de Paulo Maluf, e cientistas
políticos e historiadores veem grande peso de Volta
Redonda na virada.

Quatro anos depois, o massacre do Carandiru ocorreu
na noite de 2 de outubro, a sexta-feira anterior à eleição.
Ali, no entanto, a tragédia não teve influência no pleito,
porque a Secretaria de Segurança Pública abafou os
dados. Paulo Malufvenceu e o candidato do governador
Luiz Antonio Fleury Filho, Aloysio Nunes Ferreira, ficou
em terceiro lugar.

E agora, como o caso João Alberto vai ecoar nas
urnas? Em Porto Alegre, onde ocorreu o assassinato,
Manuela DÁvila (PC do B) enfrenta uma eleição dura,
em que foi, ao longo de toda a campanha, alvo de
ataques ferozes dos adversários e agora aparece nas
pesquisas em desvantagem em relação a Sebastião
Melo (MDB). Ela se engajou de imediato nos protestos
pela morte de João Alberto.

Em São Paulo também pode haver influência do crime.
Foi aqui que ocorreu o maior protesto depois do
assassinato, com o quebra-quebra numa loja do
Carrefour nos Jardins. Guilherme Boulos não participou.
O candidato do PSOL tem lutado na campanha contra a
pecha de "radical". As urnas mostraram que
Free download pdf