Clipping Banco Central (2020-11-22)

(Antfer) #1

ELIANE CANTANHÊDE - Nosso Floyd, nosso Trump


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
domingo, 22 de novembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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O presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão
têm posições divergentes numa série de questões,
inclusive na política externa e na importância das
vacinas contra a covid-19, mas em algo eles estão
perfeitamente em sintonia: ambos dizem abertamente
que não há racismo no Brasil. Nesse caso, o
negacionismo não é exclusividade do presidente.


Ao se dizer "daltônico", Bolsonaro admite que não
consegue ver a realidade, os fatos e estatísticas,
mostrando, por exemplo, que 75% das mortes violentas
no país que governa são de pretos e pardos. Para
disfarçar, tira pilhas de fotos com o deputado Hélio Ne-
grão. E Mourão, que já chocou ao falar em
"malandragem dos africanos", voltou à carga. Quando?
No dia da Consciência Negra, quando João Alberto foi
assassinado brutalmente, como George Floyd nos EUA,
por... ser negro.


"Digo com toda a tranquilidade: não existe racismo no
Brasil", declarou Mourão, que chama negros de
"pessoas de cor" e, depois de morar nos Estados
Unidos, garante que "racismo tem é lá", aqui "a
sociedade é misturada". Como não é ignorante, muito


pelo contrário, deveria olhar os dados oficiais sobre
desigualdade, escolas, prisões, violência policial,
mercado de trabalho. O racismo é real, massacrante.

A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves,
criticou duramente a morte de João Alberto, o Beto, mas
sem usar a palavra "racismo" e sem sequer dizer que
ele era negro - aliás, como omitiu a própria ocorrência
policial. E o presidente da Fundação Palmares, Sérgio
Camargo, um negro doentio que nega o racismo, diz
que a escravidão foi boa e acusa os movimentos negros
de "escória maldita", fez ainda pior. Em vez de repúdio
ao massacre do Beto por dois seguranças brancos - o
que não mereceu um gesto ou manifestação dele -,
Camargo pregou o fim do Dia da Consciência Negra,
porque "não existe racismo estrutural no País". Partindo
de brancos já é inadmissível; de um negro, é imoral. E
um negro que preside o órgão responsável pelo rico
acervo da história dos afrodescendentes no Brasil.

Por mais absurdo que Camargo seja, porém, ele faz
todo sentido num governo que nomeia um cidadão que
jamais pisara na Amazônia para o Meio Ambiente, um
embaixador júnior de textos e discursos sem nexo para
o Itamaraty, uma mulher que é contra os avanços
civilizatórios para o Ministério da Mulher, Família e
Direitos Humanos.

E na Educação? Um estrangeiro que se atrapalhava
com o português, um desqualificado que ameaçava
prender os ministros do Supremo, um fraudador de
currículos e agora um pastor para quem os gays são
fruto de "famílias desajustadas". Sem falar, claro, de um
general intendente para o Ministério da Saúde em plena
pandemia e de um secretário de Cultura que usava
eventos oficiais para divulgar textos e símbolos
nazistas. Camargo, portanto, está em casa.

Uma única palavra resume tudo isso: negacionismo.
Porém, ministros e secretários não passam de meros
papagaios e executores de políticas que aterrorizam o
mundo e o novo presidente dos EUA, Joe Biden, mas
vêm "de cima". Embriagado pela ideologia e por uma
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