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Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
domingo, 22 de novembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Ricardo Balthazar (interino)


Ian Black


Empresas precisam adotar posturas radicais para
enfrentar racismo no Brasil


Filho de um taxista negro e uma costureira branca, Ian
Black cresceu nas franjas da região metropolitana de
São Paulo e começou a se dar conta da engrenagem
que alimenta o racismo no Brasil quando sua ascensão
social o levou aos lugares onde os negros raramente
são vistos.


Dono da agência de publicidade New Vegas, que tem o
Bradesco e a Procter & Gamble como principais
clientes, ele acha que os esforços das empresas
brasileiras para combater o problema ainda são
incipientes e defende programas mais ambiciosos para
aumentar a diversidade no ambiente de trabalho e
promover transformações mais efetivas na sociedade.


Como foi sua formação? Nasci numa família inter-racial,
com pai negro e mãe branca. Raça não era um assunto,


e brincávamos com as diferenças de cor de pele entre
nós. Minha irmã é branca e meu irmão é mais claro do
que eu.

Cresci na periferia de São Paulo, em casas humildes,
em ruas de terra. Dormíamos todos no mesmo quarto.
Mas meu pai não bebia, nem tinha outros vícios. Meus
pais não brigavam. Não havia violência em casa, e
mesmo na rua ela não era presente como hoje.

Meu pai sempre incentivou nossa curiosidade pelo
mundo. Minha irmã foi a primeira a ir para a escola, e
minha mãe a encarregou de ensinar os irmãos a ler e
escrever antes que chegasse nossa vez.

Tive desde cedo a ambição de ver as coisas além do
lugar em que vivia. Mergulhei nos filmes, na televisão e
nos videogames. Com o surgimento da internet e dos
primeiros blogs, ampliei minhas conexões e assim
cheguei à publicidade , num momento em que as
agências buscavam gente que conhecesse esse
universo.

Em que momento o racismo começou a preocupá-lo?
Na infância e na adolescência, tinha primos brancos e
meus amigos eram brancos. Crescí consumindo cultura
pop branca. Quando a internet começou, não havia
tantas fotos, e o racismo também não era um grande
problema ali.

Quando comecei na publicidade , havia nas agências
muitos jovens e pessoas humildes com quem eu
compartilhava referências. Foram raras as situações em
que me senti de alguma forma excluído.

Comecei a perceber mais essas coisas depois de virar
empresário. Uma vez cheguei cedo para uma reunião
numa entidade do setor e o primeiro cara do escritório
que me viu perguntou se eu tinha trazido as notas
fiscais. Achava que era o motoboy. Mas eu já tinha
poder para reagir, expor a situação e obter reparação.

No aeroporto, no bairro em que vivo hoje, muitos
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