Guilherme Boulos, o velho no novo
Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
domingo, 22 de novembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Samuel Pessoa
Seu frescor lembra o PT dos anos 1980, ótimas
intenções, nenhum pragmatismo
O jovem candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme
Boulos é articulado, se expressa com clareza e
aparentemente traz frescor à cidade.
Tem uma história bonita. De classe alta, cedo foi viver e
conhecer a vida e as dificuldades dos paulistanos
carentes. Com interesse, portanto, ouvi a sabatina do
jornal O Estado de S. Paulo da semana passada.
Repercutiu muito nas redes sociais a afirmação infeliz
de que o problema do déficit da previdência é que a
prefeitura não faz concurso. Segundo Boulos, novos
servidores públicos contribuiriam para o sistema,
reduzindo o déficit. Trata-se de um despropósito:
contrata-se um servidor por 100, ele contribui com20,
reduz o déficit da previdência em 20 e eleva o gasto do
município em 100! Boulos quer trocar trabalhadores
terceirizados por concursados. Para ele, os
terceirizados são mais caros que os concursados. A
informação está errada. Há inúmeras evidências de que
o salário do servidor público é superior ao do setor
privado para as mesmas ocupações.
Há iniciativas cujo custo não convence. Por exemplo,
alega que fará unidades habitacionais, por meio de
mutirão. por R$ 41 mil cada uma. Não parece possível.
Um imóvel deteriorado no centro de São Paulo não sai
por menos de R$1.500 o m2.
Também parecem subestimados os R$4.600 por ano
para uma vaga em creche. Bem como R$ 5.700 para 0
salário bruto de um médico concursado pela prefeitura.
Também parece subestimada a estimativa de 437 mil
passagens de ônibus gratuitas, que considera ida e
volta, em cada dia útil, para gestantes, mulheres com
criança de colo e estudantes.
Os R$ 14 bilhões que separou para o combate à
pobreza parecem bem calibrados.
Independentemente das estimativas de gasto, várias
subestimadas, é na parte da receita que o candidato se
perde.
Segundo Boulos, haverá três fontes de receita para
financiar esses gastos, que são da ordem, nas suas
contas, de R$ 29 bilhões em quatro anos: o caixa da
prefeitura, o aumento do investimento e o aumento da
eficiência na execução da dívida ativa do município.
Dinheiro em caixa não é receita. O caixa da prefeitura é
receita já acontecida e é uma reserva financeira para
gastos futuros. Certamente parte está comprometida
com contas apagar que cairão ao longo do tempo. E
certamente toda prefeitura precisa de um caixa para
fazer frente às oscilações naturais da receita e despesa
que ocorrem ao longo do ciclo econômico. Boulos eleito
em 2020, se reeleito for em 2024, iniciará seu segundo
mandato sem nenhum recurso no caixa?
A segunda fonte de recursos será a normalização do
investimento da prefeitura. Segundo o candidato, na