Como ruínas programadas
Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
domingo, 22 de novembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Clique aqui para abrir a imagem
Autor: Janio de Freitas
"No Brasil não existe racismo." Essa é amais racista das
frases entre nós. Seu autor é um general, um dia eleito
presidente do Clube Militar como reconhecimento às
suas manifestações extremistas. Com a elevação à
liderança do radicalismo de direita, no mesmo ano foi
indicado pelo comando do Exército para completar a
candidatura de Jair Bolsonaro, assim chegando à mais
alta condição atual de um militar brasileiro -general vice-
presidente da República.
Considerar que inexiste racismo no Brasil é dizer que
toda a discriminação social sofrida pela negritude, sua
desvalorização remuneratória, a maior vitimação nas
ações policiais, a proporção maior na pobreza, e tanto
mais, compõem um tratamento correto aplicado pelos
brancos e merecido pelos negros. Em tal caso, o que é
racismo, raiz da violência mais disseminada no tempo e
no planeta, seria considerado o humanamente normal e
o legalmente adequado para os negros. É o que a
sentença do general-vice proclama.
Nos últimos anos, temos convivido com uma forma de
poder em que se combinam a anti-ideia, a obturação
dos canais da percepção, a disjunção da experiência, a
recusa ao conhecimento e à compreensão. Não ê
exclusividade do Brasil, Trump e metade dos Estados
Unidos mostram-se com autenticidade, para engasgo
dos que jamais quiseram vê-los como são.
Aqui, porém, chega a parecer que os últimos anos
cumprem programas perversos para exibir as cruezas
da realidade.
É o que faz o batalhão degenerais na ativa do governo e
adjacências. Caso houvesse um programa para
arruinarem a imagem do Exército, não seria diferente do
que nos mostram. O Exército que chegou ao governo
Bolsonaro era um, outro é o que a opinião pública vê.
Bolsonaro, até na volta ao "capitão" e Exército se
entrelaçam. A noção, entre militares, desse dano
institucional ficou perceptível em referências à
desvinculação entre Exército e governo. Embora sem
efeito, que palavras não desfazem esse nó muito cego.
Ao contrário, a coisa até se complica. Como as eleições
de agora insinuam. Os resultados suscitam muitas
interpretações diferentes, mesmo opostas, e ainda
assim não desprezíveis.
Está visto que o centrão e a direita tiveram segmentos
de ganho, o status do DEM elevou-se e fortaleceu-o
bastante. Mas Boulos, Manuela DÁvila e Marilia Arraes,
entre outros, revelam recuperação de saúde
surpreendente, e promissora, da esquerda. É muito e
não é tudo.
Só com o segundo turno haverá maior nitidez da nova
disposição de forças. Exceto em um caso, que dispensa
a espera.
Bolsonaro é o derrotado. O importante, no entanto, é
não se tratar só dele, em pessoa.