O PAÍS Sexta-feira, 8 de Fevereiro de 2019 11
Viver com alegria e devoção
"É uma vida bonita e cheia de
sentido, bem vivida. Não se entra
narotina.Nãoseentranocansa-
ço, apesar de que muitas pesso-
'asse perguntamcomoépossível
viver a vida inteira sempre com
as mesmas caras e fechada, não
se cansam?" Desabafou a ma-
dre Esperança Maria, radiante
de alegria.
Acrescentou de seguida que
"quando se tem Deus no meio
não há cansaço, porque tudo o
que fazemos tem a mão dele e
a vida decorre ao longo do dia
sempre em silêncio, ferramenta
que nos ajuda a interiorizar a sua
palavra, assim como meditar".
Irmã Esperança aproveitou a
ocasião para esclarecer alguns
rumoresquesurgemsempreque
alguém opta. por viver em clausu-
rada num mosteiro, segundo os
quais se deve ao facto de as can-
didatas estarem a fugir de uma si-
tuação difícil que vivem ou vive-
ram, oquenãoéocaso. Contou que
quando se decidiu por viver uma
vida contemplativa, também foi
alvo de tais rumores por parte de
alguns parentes, por ela ter perdi-
do prematuramente a Sua mãe.
"Seentramosaquiéporquehou-
ve urna chamada da parte de Deus
e, respondendo a essa chamada,
tentamos viver assim. Quando há
uma decepção ou uma fuga aqui
não se fica", enfatizou. Acrescen-
tou de seguida que "nestas situa-
çõesaspessoasestãocentradasnos
seus pensamentos e tentam refu-
giar-se na solidão para chorar. Iso-
Formação dura 11 anos
Por outro lado, a adesão a essa co-
munidade não é um processo fácil
e imediato. As candidatas passam
por um processo de formação que
leva, no máximo, 11 anos, poden-
do interromper se assim entende-
rem. O mesmo começa com o pré-
postelatado, que dura um ano, de
seguida passam à categoria de as-
pirantes ao mosteiro.
A este nível, gozam do "privilé-
gio" de sair de férias durante dois a
três meses. Durante esse período,
a candidata pode desistir se enten-
der que não é a sua vocação. Passa-
do o período de experiência e férias
de reflexão, muitas solicitam poder
ser "consagrada" madre.
De acordo com a irmã Esperan-
ça, há registos de candidatas que
desistem mesmo no início da for-
mação, e algumas depois dos votos
prendemaatençãodequemsedes-
loca para lá pela primeira vez.
A finalidade principal da vida de
clausura é a oração permanente
durante o dia e a noite, sendo que a
vocação essencial é interceder pe-
las necessidades da sociedade em
geral, começou por explicar a ma-
dre Esperança Maria, uma das ha-
bitantes.
As clarissas vivem com o neces-
sário e quemseconsagranestains-
tituição oferece a sua vida comple-
ta a favor do mundo, de acordo com
as suas normas.
Segundo a "irmã" Esperança
Maria, as grades definem o seu es-
paço de contacto com o mundo in-
terior. Que permite mais intimida-
de e encontro com Deus sem baru-
lho nem distracção, por imperar
um silêncio que não perturba nin-
guém.
Quem não for chamada não se
adapta
Convicta das suas ideias, a nossa
interlocutora, de 36 anos de idade,
dosquaisl8 vivendo nesse conven-
to, afirmou que ser madre Clarissa
é estar intimamente ligada a Deus
larn-seeprocuramaomáxirnoes-
tar fora da vida fraterna".
Segundo a nossa entrevistada, os
que pretendem fugir de uma situ-
ação desagradável e optam por vi-
ver nas Clarissas não se adaptam,
uma semana é o tempo limite para
ficarem. Passado um dia, a pessoa
sente-se mal por tal escolha.
"Aqui fica quem realmente rece-
be a chamada, e, mesmo receben-
do-a, há diversas dificuldades que
sãoultrapassadasdevidoàgraçade
Deus. Cada pessoa que tema voca-
ção lhe são dadas todas as graças
que necessita para poder perse-
verar", explicou a irmã Esperança
Maria. Disse ainda que as que per-
manecem é porque assumem es-
te compromisso com responsabi-
lidade e liberdade. "Vivemos por
graça de Deus que nos convocou
para vivermos em clausura".
temporários, que são renovados de
três em três anos.
No que toca às vestes, ficam de
acordo desde o nível de forma-
ção, sendo que as que frequentam
o pré- postelatado e o postelata-
do vestem-se de bata e lenço cas-
tanho. Já as noviças vestem o há-
bito penitenciário (batina). Rou-
pas desenhadas por São Francisco
de Assis, em forma de uma cruz,
acompanhada de toca, véu pre-
to ou branco e um cordão com os
e que a separação que há das outras
pessoas não representa fuga, mui-
to menosresultadodequalquerde-
cepção.
Explicou que a vida contempla-
tiva não é para as pessoas com des-
gos_tos, nem para os que fogem de
um determinado problema fami-
liar, ou ainda para esconder-se de
situações negativas. "Só vem para
o mosteiro das Clarissas quem se
sente chamada, se assim não for,
não se adapta".
Por norma, no convento onde as
aspirantes entram é o local indica-
do para passar o resto da vida, mas
quando há necessidade de ajudar
uma nova congregação ou se as ir-
mãssuperioresdeumdeterminado
convento têm já uma idade avança-
Só vem para o
mosteiro das Cla-
rissas quem se
sente chamada,
se assim não for,
Dão se adapta
três nós, que simbolizam os votos
que professam. A indumentária é
composta ainda por medalha eco-
roa franciscana.
Aquando da tomada do hábito,
passagem da fase de noviça pa-
ra madre, as candidatas recebem
um nome novo, que é opcional.
Entretanto, devem obrigatoria-
mente acrescer ao nome que es-
colheram o de Maria. Nessa altu-
ra, depois de as jovens entrarem
no convento, a formação acadé-
da e carecem de auxilio, é possível
permitir que uma delas vá atender
ao seu pedido.
No entanto, quando uma das ir-
mãs cai hospitalizada, ao sair do
hospital pode receber visitas direc-
tas, se ainda não conseguir chegar
até ao "locutor", local onde rece-
bem as visitas, separadas por gra-
deamentos. Há ainda excepções
de saídas, como para tratéll.docu-
mentos pessoais ou por questões de
saúde, visitar apenas os pais se es-
tes estiverem doentes. Mas se um
deles a falecer, a madre não perma-
nece no local do óbito, tendo de re-
gressar imediatamente à residên-
cia religiosa.
Segundo as freiras, ausentam- se
do óbito para orar com o objectivo
de interceder para que a alma de-
funta se encontre com Deus.
Quanto à promoção vocacional,
contam que quem se encarrega de
o fazer é o "Espirito Santo", uma
vez que não saem do convento pa-
ra evangelizar. Contam que há jo-
vens que manifestam a pretensão
de se juntar a elas sem antes conhe-
cerem as regras da congregação e o
seu estilo de vida.
mica termina e passam a adqui-
rir apenas educação religiosa, en-
sinamentos que venham ajudar
na vida no mosteiro. Tais explica-
ções levaram a dupla de repórte-
res a acreditar que completar as 24
horas de clausura seria um desa-
fio repleto de histórias emocionan-
tes. Para começar, depois do jantar,
às 20horas, só restava desfrutar do
silêncio enchia o local, numa noi-
te cujos sinais apontavam que se-
ria tranquila ...