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O PAís Sexta-feira, 08 de Fevereiro de 2019 13
sentação
STELA CAMBAMBA
Irmã Piedade Maria
As grades que separam os diferentes espaços que as freiras partilham
com a comunidade
Irmã Piedade Maria
Numa das visitas
o pai perguntou
seriamente se
aconteceu algu-
- •
ma co1sa com1go,
pelo que achava
que não estava
bem de saúde.
STELA CAMBAMBA
um panfleto que falava das irmãs
Clarissas, lembra que foi num dia
11 de Agosto, data em que a igreja
celebrava a festa de Santa Clara.
Durante três anos, Teresa Maria
ficou como vocacionada exter-
na, que frequentava apenas os
encontros. Depois deste período
decidiu ir viver em casa das ir-
mãs Clarissas, mas ninguém da
família aceitou acompanhá- la.
Actualmente, com 32 anos, vive
na casa das Clarissas há 11 anos.
A família já aceitou a opção da ir-
mãe visita -a de tempos a tempos.
CEDIDAS
lrmi Esperança Maria
Separada da família
por decidir ser madre
Cátia Mariza Brás Nazari, ou
simplesmente irmã Esperança
Maria, vem da Paróquia da
Sagrada Família e teve um
surgimento repentino da vo-
cação, ou aquilo que considera
de chamamento de Deus. Co-
nheceu as irmãs Clarissas por
intermédio das irmãs Filhas
de Jesus, quando fazia visita a
um membro desta congrega-
ção.
Passou também a frequentar
os encontros vocacionais du-
rante três anos. Pelo facto de a
família não ser de católicos
praticantes, não apoiaram a
sua decisão. Apenas o pai
compreendeu e a acompanhou,
diferente dos outros parentes
que entendem que Esperança
esteja numa prisão, pois há pri-
mas e tios que não a vêem há 18
anos.
Irmã Esperança explicou que a
separação da familia foi muito
difícil de ultrapassar, tendo em
conta que sempre foi muito liga-
da aos parentes, mas para ven-
cer esta situação contou com o
apoio da oração e conselho das
irmãs superiores.
No período em que saiu de casa
das irmãs Clarissas para férias
junto dos familiares, foi muito
constrangedor, tendo sido inclu-
sive ameaçada por um tio.
Para desviar a atenção dos
parentes, optou por mostrar
comportamentos comum de
uma jovem da sua faixa etá-
ria. Vestia calções curtos,
calças, trançava o cabelo com
diversos tipos de postiços,
participava em diferéntes
tipos de festas, mas para ir à
missa tinha que sair às es-
condidas. -
Procurava uma desculpa
para ler livros religiosos, che-
gou até mesmo a simular que
estava a estudar para ingres-
sar na Faculdade de Medicina
e que, por isso, tinha de estar
constantemente a ler, mas
eram livros ligados à religião
católica.
No final das férias tinha de
regressar para o convento
para dar continuidade à sua
vocação de ser madre. No dia
marcado para o regresso
despediu-se da avó com
quem vivia alegando que ia
para um retiro nas irmãs
Filhas de Jesus. Já no local
ligou para ela dizendo que
estava de volta ao convento
nas irmãs Clarissas e não
mais voltaria para casa.
A anciã criou um clima de
óbito em casa, os parentes
foram ligando para a Cátia
Mariza, que decidiu adoptar o
nome de Maria Esperança,
para informar da situação
que criou em casa, mas esta
não recuou da sua decisão e
vive em clausura há 18 anos.
Falta de água corrente encarece
a vida das irmãs
Apesar da falta de água cor-
rente ou canalizada na casa
das irmãs Clarissas, há uma
área reservada para o cultivo,
onde se pode encontrar bata-·
ta-doce, cebola, couve, beter-
raba, tomate, pepino, pimento,
entre outros hortícolas. A área
é regada com a água que com-
pram em cisternas para as
suas necessidades básicas
diárias.
Devido à falta do líquido
precioso, por mês compram
duas ou três cisternas de água
de 20 mil litros, o que acaba
com as suas economias arre-
cadadas nas vendas dos pro-
dutos que confeccionam. "Mas
temos o essencial para viver",
frisou a Ir" Esperança.
Outra preocupação que lhes
tem tirado o sono são as inunda-
ções que acontecem no período
chuvoso, sendo que a horta é o
local mais afectado, pois as
plantações chegam a estragar-
se. As irmãs Clarissas apelam à
sociedade em geral a ser amante
de Deus, a centrar -se em Deus e
rezar muito, de modo a encon-
trar a verdadeira felicidade.
Defendem que quando o ho-
mem se afasta de Deus poderá
progredir na ciência e na técni-
ca, mas com o objectivo de se
auto-destruir. Pelo que desejam
a evolução, a ciência e a técnica,
mas para o bem do próprio
homem, e isso só será pos-
sível se estivermos com
Deus, "porque com Deus
podemos respeitar a digni-
dade do homem e de toda a
criatura que Deus colocou
no mundo", defendem.
Apelam ainda a todos os
que se sentem chamados a
uma vida de maior entrega
a não terem receio de pro-
curar as instituições no
sentido de encontrarem
ajuda. "Não se deixem levar
pelas coisas passageiras,
busquem somente a Deus,
porque ele é tudo", refor-
çam.