- EXAME. DEZEMBRO 2020
Quase 110 mil empregos destruídos
e cerca de 900 mil que necessitaram de
apoios extraordinários para se manterem.
Os números mostram o efeito brutal que esta
crise pandémica tem tido no mercado de trabalho e
indiciam dificuldades em sarar as feridas abertas nos
últimos meses. A retoma deverá chegar ao longo do pró-
ximo ano, com epidemiologistas e economistas relati-
vamente esperançados no efeito de uma vacina. No
entanto, o mais provável é que o perfil do emprego
não regresse ao que era antes da Covid-19. As trans-
formações dramáticas a que assistimos nos últimos
meses podem ser o prenúncio do que está para vir no
mundo do trabalho, o que poderá exigir programas ma-
ciços de requalificação para corresponder às
novas necessidades e exigências das empre-
sas na fase de relançamento da economia.
“Desde o passado mês de março, co-
meçámos a assistir à maior transformação
no mundo do trabalho e nas necessidades
de talento desde a II Guerra Mundial”, afir-
ma Rui Teixeira, o Chief Operations Offi-
cer (COO) do ManpowerGroup Portugal, à
EXAME. O Instituto do Emprego e Forma-
ção Profissional (IEFP) observa que “os blo-
queios induzidos pela pandemia Covid-
e a recessão global daí decorrente criaram
uma perspetiva altamente incerta para o
mercado de trabalho e aceleraram, também,
a chegada do futuro do trabalho”.
Esta transformação tem ocorrido num
contexto altamente destrutivo para muitos
setores de atividade. Os dados mais recen-
tes do Instituto Nacional de Estatística (INE) deixam
perceber o que se tem passado no mercado de traba-
lho, desde o início do ano até final de setembro. Setores
como a hotelaria e a restauração extinguiram mais de
45 mil postos de trabalho, e as indústrias transforma-
doras perderam 42 mil empregos. Tanto o
comércio como as atividades administra-
tivas empregam menos 30 mil pessoas do
que no início do ano.
Há postos de trabalho a serem cortados
a grande velocidade e as ofertas de emprego
a caírem a pique. O IEFP revela à EXAME
que as ofertas de emprego que lhe foram
comunicadas desceram 21,6% nos primei-
ros nove meses do ano em relação ao mes-
mo período homólogo. A entidade especi-
fica que, “ao nível dos setores de atividade
das ofertas de emprego, a maior quebra
em 2020 (de janeiro a setembro) verificou-
-se no alojamento, na restauração e simila-
res (menos 6 095 vagas recebidas, -43,3%
face a igual período de 2019), seguindo-se,
em termos absolutos, o comércio por grosso e a retalho
(menos 3 518 vagas comunicadas ao IEFP, correspon-
dendo a -31,1%)”.
Apesar do travão a fundo nas ofertas nas áreas
mais atingidas pela crise, o alojamento, a restaura-
“Trabalhadores-
chave, de funções até
agora subvalorizadas,
tornaram-se heróis
indispensáveis,
prestando serviço
em hospitais,
supermercados,
fábricas, centros
logísticos e na
distribuição de bens”
Rui Teixeira
COO ManpowerGroup Portugal