- EXAME. DEZEMBRO 2020
A
pandemia obrigou empresas
e trabalhadores a maior fle-
xibilidade e agilidade e criou
desafios culturais, de forma-
ção e integração que as orga-
nizações ainda não digeriram. No longo prazo,
as transformações trazidas por esta crise podem
acelerar a inovação e contribuir para aumen-
tar a inclusão, por exemplo, através de fenó-
menos como o trabalho remoto. “O teletrabalho
abre oportunidades que não estavam na agen-
da, também em termos geográficos. Podemos
trabalhar com pessoas que não estão nos lugares ha-
bituais e contribuir para a revitalização do Interior de
Portugal”, defendeu Rogério Campos Henriques, CEO
da Fidelidade, durante a mesa-redonda O Trabalho em
Tempos de Pandemia.
Mas se esta deslocalização cria oportunidades para
o desenvolvimento regional e para integrar colaborado-
res com limitações, o caminho para um modelo que
alterna trabalho em casa e no escritório não está isento
de sobressaltos. “Os propósitos das organizações são
o grande desafio para estes modelos mais híbridos de
trabalho. Os processos de recrutamento, de seleção e
de onboarding são os mais desafiantes”, considerou Rui
Teixeira, COO da ManpowerGroup Por-
tugal, que opera na seleção e gestão de
recursos humanos. “Não se constrói cul-
tura de empresa à distância e não se con-
segue fazer ‘training’ da mesma maneira. Temos
de caminhar para um modelo mais intermédio”,
secundou Rogério Campos Henriques
Para o CEO da Fidelidade, ter de trabalhar a
partir de casa desfez alguns tabus junto de cola-
boradores que pensavam que o teletrabalho não
poderia ser aplicado à sua função. Mesmo com
dificuldades iniciais: “Na altura [do confinamen-
to], dizia em jeito de brincadeira que aquilo não
era teletrabalho, era ‘teleconfusão’, cheguei a ver
crianças a pularem por cima dos pais, era difícil
gerir aquela dinâmica”, descreveu. O modelo, re-
conheceu, não funciona de forma igual para todos, e, em
alguns casos, requer muita ajuda e acompanhamento.
Os oradores destacaram, ainda assim, a rápida res-
posta das pessoas e dos processos nas suas organizações.
“Toda a equipa acha que as coisas correram muito bem
e isso resulta em mais motivação. As pessoas estão ainda
mais ligadas, dizem-me que estão ainda mais próximas”,
garantiu Cláudia Lourenço, diretora-geral da P&G Por-
tugal. A adaptação obrigou a garantir a segurança e a
confiança dos colaboradores e a mobilizar as capacida-
des digitais necessárias nas organizações, vertente que
expôs ainda mais uma das necessidades do merca-
do: “A escassez de talento ficou vincada para o pós-
-pandemia nas áreas da digitalização, tecnologia e
modelos remotos. Num país como Portugal, com
90% de PME, isso traz desafios acrescidos à eco-
nomia”, concluiu Rui Teixeira. E
UM DESAFIO
CHAMADO
DISTÂNCIA
O modelo de trabalho remoto, que
obrigou a uma rápida adaptação,
não é para todos. E traz desafios
às organizações, que vão da cultura
ao recrutamento, passando pela
formação e integração
Texto Paulo Zacarias Gomes
PA N D E M I A
VÍDEO
DISPONÍVEL EM EXAME.PT
Modelos
híbridos de
trabalho desafiam
componentes
como o recruta-
mento, a seleção
e a integração
na empresa
COM O APOIO