Exame - Portugal - Edição 440 (2020-12)

(Antfer) #1

Micro



  1. EXAME. DEZEMBRO 2020


A


A fábrica em Alfena, a poucos minutos do
Porto, chegou a ter 100 trabalhadores e a
ocupar todo um pavilhão. Hoje, tem um
terço do espaço – o resto alugou-se a uma
oficina e a um negócio de diversões – e os
cinco funcionários trabalham ao som do
lento matraquear das máquinas. Júlio Pe-
nela, bisneto do fundador, percorre com
as mãos as prateleiras da sala de visitas,
onde repousam centenas de brinquedos
de lata (reaproveitada de embalagens de
conserva), chapa, plástico ou madeira, com
maior ou menor sofisticação. Miniaturas
de carros, telefones e outros objetos como
balanças, máquinas de costura e tábuas de
engomar das marcas PePe e Jato, que inun-
davam aos milhares as bancas das feiras,
nos anos 70 e 80 – e que contam uma parte
da história da indústria do brinquedo em
Portugal, antes de as normas comunitárias
e o fabrico barato e massivo na Ásia terem
levado alguns a pôr trancas à porta.
Com origem quase centenária, a fábri-
ca faz tudo como antigamente e encon-
trou o seu lugar no nicho da saudade, em-
bora os artigos que hoje vende, dados os
materiais e as técnicas usadas, sejam clas-
sificados como artesanato e não aconse-
lhados a crianças com menos de 10 anos.
Vive de encomendas restritas de miniatu-
ras de táxis, aviões, carros de bombeiros
ou carrinhas “pão de forma”, para efemé-
rides, museus ou lojas da especialidade –
como A Vida Portuguesa, de Catarina Por-
tas, que recentemente fechou uma loja em
Lisboa, em plena crise no turismo. “Che-
gava a fazer 200 a 300 táxis para a Catari-
na Portas; agora faço 36. Se fizermos mil
brinquedos por mês, é muito!”, descreve
Júlio Penela. Só 10% das receitas vêm des-
te negócio, já que o que sustenta a fábrica


é a produção de plásticos técnicos, como
frascos para cola e álcool-gel ou asas para
caixas de vinho.
A dez minutos de carro dali, num dis-
creto armazém em Moreira (Maia), traba-
lham atualmente tantas pessoas quanto as
que a PePe (Penela e Penela) e Jato empre-
garam nos seus tempos áureos. Das mãos
de dezenas de funcionárias, encarregadas
de pintar cada figura a pistola e pincel,
sairão este ano três milhões de miniaturas
de animais e personagens do fantástico
para o mercado internacional. “As senho-
ras aliam a perfeição à rapidez”, descreve
Patrícia Maia, enquanto mostra a área de
decoração onde as figuras circulam entre
as mãos das funcionárias.

Chegava a fazer
200 a 300 táxis
para a Catarina
Portas [lojas A Vida
Portuguesa]; agora
faço 36. Se fizermos
mil brinquedos por
mês, é muito!”

Júlio Penela
Responsável da PePe e Jato
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