Micro
mento, a Creative Live Games, está idealizar
a partir de Portugal, na esperança de que se
mantenha a procura de jogos sociais e de ta-
buleiro, que disparou no confinamento (ver
caixa “O que dá corda ao setor”).
DAVIDES NUM MUNDO DE GOLIAS
Segundo a GfK, no último ano, o setor dos
jogos e brinquedos, dominado pela dis-
tribuição e pelo retalho de produtos de
multinacionais, representava 212 milhões
de euros em Portugal. Uma gota num oce-
ano global de 76,3 mil milhões de euros
(ou 90,7 mil milhões de dólares), que é
em quanto a Statista avalia o mercado
mundial. A maior fatia deste bolo sabo-
roso calha invariavelmente nas mãos de
gigantes mundiais como Bandai Namco,
Lego, MGA Entertainment, Hasbro, Mat-
tel ou Takara Tomy. Com marcas como
L.O.L. Surprise!, Barbie, Marvel Univer-
se, Hot Wheels ou Nerf (as mais vendidas
de 2019), cruzam ofertas clássicas de jogos
e brinquedos com conteúdos audiovisu-
ais, videojogos e eventos, desenvolvidos
através de marcas próprias ou sob licença.
Junte-se a isto toda a atividade de repre-
sentação, distribuição e venda ao consu-
midor final, área que também passou por
transformações, numa guerra de preços
FÁBRICAS DE MEMÓRIAS
Com mais ou menos “made in Portugal” inscrito nas etiquetas,
há algumas dezenas de marcas de brinquedos cuja produção ou
idealização ficou associada ao País. No imaginário de gerações
de crianças das últimas décadas há brinquedos de lata,
miniaturas em plástico, carrinhos de zamac produzidos à escala
e até ursos de peluche para exportação
Ficavam sobretudo no Nor-
te e Centro do País, instala-
das junto das grandes zonas
industriais e, muitas vezes, asso-
ciadas à indústria dos moldes e
do fabrico de produtos de plás-
tico. A partir dos anos 1960, os
artigos que produziam passaram
a encher as prateleiras das lojas
de brinquedos e de colecionismo
e, em muitos casos, as mesas das
barracas das feiras que percorri-
am o País. Com a automatização,
a concorrência da China, as nor-
mas comunitárias mais aperta-
das e a alteração de tendências
do lado da procura, muitas destas
fábricas interromperam a sua ati-
vidade e fecharam portas.
A história das empresas que
nas últimas décadas produzi-
ram ou montaram brinquedos a
partir de Portugal faz-se de car-
rinhos, de barcos, de aviões, de
bonecas, de peluches, de má-
quinas de lavar, frigoríficos ou
fornos de brincar, mas também
dos primórdios, da folha de flan-
dres e do arame, até à baquelite
e à borracha, passando pela liga
metálica de zamac até chegar ao
omnipresente plástico. De em-
presas familiares (a grande parte)
até às multinacionais, que entra-
vam diretamente no mercado ou
através de sócios portugueses. E
de centenas ou milhares de tra-
balhadores que trabalhavam para
brincar.
Hoje, perceber esse percurso
passa também, e sobretudo, pe-
los círculos de colecionadores,
pelas feiras e museus da especi-
alidade e pelos sites de venda de
produtos em segunda mão, como
o OLX, onde vão parar mui-
tas memórias de infância. “Se
hoje encontrar brinquedos da
JAJ [José Augusto Júnior] valem
uma pipa de massa”, alerta Júlio
Penela, bisneto de José Augusto
Júnior, o artesão que a partir de
Alfena foi precursor do que viri-
am a ser duas das poucas mar-
cas portuguesas tradicionais de
brinquedos que ainda resistem, a
PePe e a Jato (ver texto principal)
e que vivem sobretudo do merca-
do da saudade e da lusitanidade.
Brintói, Luso-Toys, Jamba,
Minibri ou Radar são hoje mar-
cas que também só se recordam
nesses círculos ou na memória
de quem, nas décadas de 1970 ou
1980, por exemplo, recebeu pelo
Natal uma boneca Tucha ou um
boneco Gavi, brincou aos cow-
boys com uma pistola de plástico
da Osul, levou para a praia (ou
para a banheira...) um barquinho
da Fanabri ou teve a sorte de ter
uma miniatura à escala, da Luso-
-Toys ou da Vitesse.
Na página seguinte, abrimos
o baú (ou fazemos, como agora
se diz nas gerações mais recen-
tes, uma espécie de unboxing)
do que foi uma indústria dos
brinquedos com mais ou menos
made in Portugal – já que não é
certo, em todos estes casos, que
os seus componentes cá tenham
sido produzidos na íntegra. Ain-
da assim, é o retrato de uma épo-
ca em que no País ainda se traba-
lhava para brincar.
Tínhamos previsto
bastantes novidades
este ano, mas
adiámos para 2021
as dez marcas
novas que íamos
lançar.
Há aversão
ao risco e pouca
disponibilidade
para apostar”
Ricardo Feist
Administrador da Concentra