Exame - Portugal - Edição 440 (2020-12)

(Antfer) #1

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DEZEMBRO 2020. EXAME. 79

A


s injeções de confiança
dos resultados prelimi-
nares das vacinas para a
Covid-19 ativaram o oti-
mismo nos mercados fi-
nanceiros. Os anúncios da Pfizer/BioNTech
e da Moderna de que os ensaios clínicos de
larga escala das suas vacinas demonstraram
taxas de eficácia acima de 90% levaram a
subidas expressivas nas bolsas mundiais.
O maior efeito foi sentido nos setores que
têm sido mais fustigados pelas medidas de
contenção da pandemia, casos da aviação,
do turismo, do lazer e das petrolíferas. A
reação dos investidores reflete a convicção
de que em 2021 o mundo poderá derrotar
a pandemia, libertando a economia global
do espartilho sufocante em que se encontra.
Começa a ver-se a luz ao fundo do túnel,
como afirmou o CEO da Pfizer e também
alguns políticos e analistas.
Os avanços rápidos e com taxas de efi-
cácia superiores ao esperado ajudam-nos a
vislumbrar uma saída desta crise. A Ciên-
cia aparenta estar a conseguir baixar a pro-
babilidade de novas recaídas durante 2021
provocadas por terceiras e quartas vagas da
pandemia. Mas, apesar dos festejos nas bol-
sas, a confiança injetada pelas vacinas tem
de ser intercalada com uma boa dose de
cautela. Os líderes dos maiores bancos cen-
trais do mundo, por exemplo, jogam à defe-
sa. “É demasiado cedo para avaliar com con-
fiança as implicações destas notícias para o
rumo da economia, especialmente no curto
prazo”, disse Jerome Powell, o presidente da
Reserva Federal dos EUA, no Fórum do BCE,
que se realizou de forma digital. Também a
presidente do BCE, Christine Lagarde, con-
siderou que os dados promissores apresen-
tados pelas farmacêuticas não são, para já,
decisivos para as estimativas económicas da
Zona Euro. A vacina até pode estar a avançar
a um ritmo mais rápido do que o anteci-
pado. Mas os cenários-base dos economis-
tas também não incorporavam, regra geral,
uma segunda vaga tão violenta da pandemia
na Europa e nos EUA que obrigasse a medi-
das de contenção tão severas.
As notícias da vacina são boas, mas pro-
vavelmente não serão suficientes para aliviar
as provações que a economia ainda terá de
enfrentar no que falta percorrer até ao final
do túnel. “Infelizmente, [as vacinas] não al-
teram o facto de no curto prazo a economia

global enfrentar um inverno difícil”, avisa
a equipa de economistas do banco ING.
Numa nota a investidores, os especialistas
realçam que “a renovação de confinamen-
tos por toda a Zona Euro deverá cortar 2%
ao PIB no quarto trimestre e o risco de res-
trições adicionais nos EUA coloca um travão
considerável à atividade”.
Apesar da reação inicial de euforia nos
mercados, as contas que os economistas e
investidores começam a fazer são agora so-
bre quanto tempo irá demorar até a vaci-
na chegar ao terreno para ser administra-
da num número suficiente de pessoas que
permita derrotar a pandemia. E a solução
está longe de ser instantânea. Anthony Fauci
alertou recentemente que “a cavalaria está a
caminho, mas não se deve pousar as armas
e deixar de lutar porque a ajuda ainda não
chegou”. Citado pela imprensa americana, o
diretor do Instituto de Alergias e Doenças In-
fecciosas dos EUA pediu que se redobrassem
os esforços nas medidas de saúde pública.
Assim, para a economia, “a perspetiva
de vacinas dá alguma luz ao fundo do tú-
nel, mas fará muito pouco para ajudar no
futuro imediato”, observa David Oxley. O
economista da consultora Capital Econo-
mics afirma, num relatório, que “dada a
prevalência atual do vírus e a pressão nos
sistemas de saúde, as restrições severas irão
provavelmente continuar no terreno duran-
te todo o inverno e poderão ficar ainda mais
apertadas”. Realça que, mesmo depois das
notícias sobre a eficácia da vacina da Pfizer/
BioNTech, o ministro da Economia alemão,
Peter Altmaier, alertou que as medidas de
confinamento parcial deverão continuar no
terreno por quatro a cinco meses. Um for-
te indício de que não será fácil nem rápido
derrotar a pandemia e libertar a economia
do espartilho em que se encontra. Se a con-
tração no quarto trimestre é já um dado ad-
quirido, a probabilidade de que o arranque
de 2021 seja marcado pela continuação, ou
mesmo pelo aumento, dos constrangimen-
tos à atividade económica é cada vez maior.

SALVAR O VERÃO
Os indícios para os próximos meses não são
animadores. O inverno avizinha-se difícil e
longo. Nas últimas semanas, ouvimos mui-
tas vezes a expressão de se fazer um esforço
para salvar o Natal. Mas, na frente económi-
ca, as próximas semanas serão de conten-

AS VACINAS
NA LISTA DA UE

Existem, a nível global,
48 candidatas a vacina em
ensaios clínicos e outras
164 ainda em fase de testes pré-
-clínicos, segundo a Organização
Mundial da Saúde. A Comissão
Europeia tinha, a meio de
novembro, contratos fechados
com cinco farmacêuticas
e está em conversações
avançadas com a Moderna

> PFIZER/BIONTECH

Estas empresas foram das primeiras a
divulgar a eficácia dos ensaios clínicos
de larga escala. Os dados preliminares
divulgados a 9 de novembro mostravam
uma eficácia de mais de 90% da vacina
e os resultados finais mostraram uma
eficácia de 95%. A empresa prevê come-
çar a distribuir as primeiras vacinas ainda
este ano ou no início de 2021.

> MODERNA

A farmacêutica mostrou também
dados promissores nos resultados pre-
liminares dos ensaios clínicos de larga
escala, com uma taxa de eficácia de
95%. A infraestrutura necessária para
esta vacina é menos complexa do que
a da Pfizer/BioNTech. A Moderna prevê
distribuir as primeiras doses nos EUA
até ao final do ano e estava, no dia de
fecho desta edição, em conversações
avançadas com a Comissão Europeia.

> ASTRAZENECA
E UNIVERSIDADE DE OXFORD

Os responsáveis desta entidade obser-
varam dados promissores na resposta
imunitária das pessoas mais idosas. Os
resultados finais dos ensaios clínicos
deverão ser revelados antes do Natal.

> OUTRAS CANDIDATAS

Entre as candidatas consideradas pela
Comissão Europeia estão ainda as
vacinas da CureVac, da Sanofi-GSK e da
Janssen Pharmaceutica. Estas farmacêu-
ticas têm já contratos firmados com a UE.
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