Macro
80. EXAME. DEZEMBRO 2020
ção de estragos. O foco dos economistas e
dos investidores está agora sobre se a vacina
ajudará a salvar o próximo verão, algo par-
ticularmente relevante para países bastante
dependentes do turismo, como é o caso de
Portugal.
Apesar da velocidade sem precedentes
a que as vacinas passarão dos laboratórios
à distribuição em massa, os especialistas de
saúde duvidam de que o vírus esteja con-
trolado antes do final de 2021. O cofunda-
dor da BioNTech disse, numa entrevista à
BBC, que se tudo correr bem, a vacina po-
derá começar a ser distribuída no final deste
ano ou no início de 2021 e chegar à entrega
de 300 milhões de doses até abril. No en-
tanto, Ugur Sahin estima que o regresso à
vida normal aconteça apenas no inverno do
próximo ano. Isso desde que se atinja uma
elevada taxa de vacinação da população até
ao outono.
O mais provável é que a Covid-19 con-
tinue a condicionar as nossas vidas no ve-
rão do próximo ano. Mas existe a esperança
de que as temperaturas mais altas, aliadas
à primeira ronda de vacinação dirigida aos
mais vulneráveis, possam levar o vírus a dar
uma trégua que ajude a diminuir as limi-
tações necessárias para retirar pressão aos
serviços de saúde. “Pensamos que o mais
provável é que os Governos possam começar
a levantar a maioria das restrições que estão
atualmente em vigor durante o segundo tri-
mestre do próximo ano – bastante antes de
a vacinação a toda a população estar com-
pleta – e que todas as limitações significati-
vas sejam retiradas até ao quarto trimestre”,
indica David Oaxley.
Mas, como os últimos meses nos ensina-
ram à força, com este vírus não há margem
para grandes certezas. Além disso, a tarefa
de produzir e distribuir vacinas que abran-
jam uma parte significativa da população
mundial é hercúlea. Por outro lado, real-
çam os economistas do ING, “existem ainda
questões importantes a envolver as vacinas
que serão essenciais para as perspetivas eco-
nómicas”. E exemplificam: “Qual será a efi-
cácia provada da vacina quando for estendi-
da a toda a população? Qual a proporção da
população que será vacinada? Quanto tem-
po demorará a completar a vacinação, dadas
as complexidades de transporte e armaze-
namento de algumas vacinas que precisam
de temperaturas abaixo de zero e requerem,
provavelmente, duas doses?” Precisaremos
ainda de perceber durante quanto tempo
dura a imunidade e se a vacina é totalmen-
te eficaz junto da população mais idosa.
As respostas a estas questões serão essen-
ciais para as projeções económicas. A juntar
a isso há ainda a incerteza sobre se haverá a
proporção necessária da população a querer
ser vacinada. Uma sondagem divulgada em
setembro pela Ipsos e pelo Fórum Económico
Mundial, que abrangeu 20 mil pessoas de 27
países, mostrava que 26% dos inquiridos di-
ziam não ter intenção de levar a vacina, pro-
porção que os especialistas dizem que pode
comprometer a eficácia desta arma. Em paí-
ses como Rússia, Polónia, França e Hungria,
mais de 40% dos questionados disseram que
não pretendiam ser vacinados.
Os anúncios da Pfizer/BioNTech e da
Moderna até podem ter ajudado a vislum-
brar a luz ao fundo do túnel, algo que, dada
a situação, é muito valioso. Mas, infelizmen-
te, não dissiparam os indícios de que ainda
existe um caminho escuro e cheio de obstá-
culos a percorrer até encontrarmos a saída
desta crise. E
O AINDA
LONGO CAMINHO
DAS VACINAS
A Pfizer/BioNTech e a Moderna
contam obter autorização para
as suas vacinas ainda este ano,
nos EUA. Na Europa, a luz verde
também poderá estar para breve
> AUTORIZAÇÃO DE USO
Após os resultados dos ensaios clínicos
de larga escala a indicarem a eficácia
das vacinas, as farmacêuticas que
estão mais avançadas neste processo
esperam ter a autorização para utiliza-
ção de emergência nos EUA ainda este
ano. Na Europa, a Agência Europeia
do Medicamento também poderá dar
essa autorização ainda este ano ou no
início de 2021, tendo implementado
procedimentos para uma aprovação
mais rápida.
> PRIMEIRAS ADMINISTRAÇÕES
A Pfizer e a Moderna conseguirão
distribuir algumas dezenas de milhões
de doses das vacinas até final do ano,
o que torna possível que existam ainda
este ano ou logo no início de 2021
alguns programas-piloto de vacinação
(envolvendo profissionais de saúde, por
exemplo). O presidente do Infarmed,
Rui Ivo, também sinalizou, numa das
reuniões com responsáveis políticos
sobre a evolução da pandemia no País,
que as primeiras vacinas podem chegar
a Portugal em janeiro.
> DISTRIBUIÇÃO EM MASSA
O grande desafio será a vacinação
em massa da população, sendo que
algumas das vacinas envolvem a admi-
nistração de duas doses. O cofundador
da BioNTech salientou que é essencial
que a vacinação da população esteja
concluída o mais tardar até ao próximo
outono, de forma a podermos regres-
sar ao normal no inverno do próximo
ano. Em Portugal, caso as vacinas em
fase mais avançada consigam aprova-
ção, o objetivo é “ter um número muito
significativo de pessoas abrangidas” no
início do verão, indicou Rui Ivo.