DEZEMBRO 2020. EXAME. 83
mais lá dentro do que apenas a não deixar
as pessoas fumar na tua casa’”, conta diver-
tida. “Eu era efetivamente uma idiota. Uma
anti-smoking vigilante, que nem deixava
o jardineiro fumar se estivesse no meu jar-
dim!”, diz com um sorriso.
Mas então, o que faz uma executiva de
sucesso, completamente antifumo, juntar-
-se à principal empresa tabaqueira do mun-
do? Primeiro, explica, a ética que encontrou
dentro da organização. Os valores, o com-
promisso e o ambiente, refere. “As agências
de publicidade são lugares muito diverti-
dos para se trabalhar. Mas a PMI é um lugar
maravilhoso. Não estava à espera. E estou
muito feliz por me ter juntado à PMI, e por
o ter feito quando tinha idade para o fazer.
As energias negativas já não me afetam, o
que as pessoas dizem não me afeta... Ga-
nhei calo, no fundo”, conta, antes de reve-
lar que vários amigos a questionaram bas-
tante por ter tomado esta decisão. Trabalhar
numa empresa que promove produtos que
são um risco para a saúde com o seu histo-
rial não lhes fazia sentido. Mas, defende, a
empresa está comprometida em “tornar o
mundo um lugar melhor”, garante. Esse foi,
aliás, um dos tópicos que a levaram a demo-
rar tanto tempo a tomar a decisão. Queria
ter a certeza de que o compromisso de que
lhe falavam era real e seria consequente no
marketing da PMI. “A nossa campanha atual
é mesmo para retirar o fumo do mundo.
Temos três frases-chave: se não fuma, não
comece; se fuma, desista e se não desistir,
mude. Os cigarros não são bons para nós,
certo? E temos de continuar a testar os valo-
res da companhia. A empresa vai estar fora
do negócio do tabaco de combustão num
futuro relativamente próximo. E vai subs-
tituir isso por produtos que são melhores
para a sociedade. E eu acredito nisso”, re-
sume. “Sinto uma enorme responsabilida-
de, como sentia na publicidade, aliás, por
ser uma mulher num cargo sénior de ges-
tão, em fazer a nossa mensagem chegar”,
afirma, como que a comprovar o seu grau
de exigência com a própria missão. “O que
faço aqui é muito diferente de vender ou de
promover outro tipo de produtos. Estamos
a falar de transformar técnicas de marke-
ting, de alterar comportamentos, de criar
novos quadros regulatórios para que possa-
mos apresentar novos produtos ao merca-
do, que sejam bons para o mundo”, conclui.
Os ecrãs, na
verdade, criaram
uma barreira na
comunicação.
Escondemo-nos
atrás deles”