Exame - Portugal - Edição 440 (2020-12)

(Antfer) #1
DEZEMBRO 2020. EXAME. 85

ro padrões, olho para o que está na agenda
do dia e muito para aquilo a que as pessoas
aspiram – e aquilo a que as pessoas aspi-
ram odiar. A título de exemplo, acredito que
Trump foi eleito porque as pessoas aspiram
a ser uma estrela de televisão. Não é por-
que ele era um pai de família ou um políti-
co ótimo. Os eleitores viam-no de uma for-
ma diferente. Como sou uma pessoa global,
olho para o que aconteceu no ano anterior,
considerei estas questões populistas todas
que estão a acontecer em redor no mundo...
Depois estudo os média, leio imensa litera-
tura académica e popular, ou informativa.
E todos os dias tento ler jornais de diferen-
tes espectros políticos. Garantidamente, vou
passar os olhos pelo New York Post, que é
de direita, pelo Daily Mail, que é middle
England, e claro, leio o New York Times, o
Wa s h i n g t o n P o s t e tento ler alguns jornais
australianos. E porque tudo está disponível


ficiente, ter um estilo de vida saudável e ter
hobbies são tudo coisas muito importantes”,
avisa. E sobre como consegue ter tempo para
gerir tudo, com um nível de sucesso tão ele-
vado, é bastante assertiva: “Só não se pode
fazer tudo de uma vez, nem sozinha. Nunca
poderia ter aceitado este trabalho se tivesse
crianças em casa, ainda. Não acredito, aliás,
que o tivesse aceitado se as crianças [os en-
teados] ainda estivessem em idade escolar.”
Mas o grande segredo, admite, está em
ser “muito boa só a fazer o que interessa. Por
exemplo, interessou-me sempre que a nossa
família jantasse junta todos os dias. Não me
interessa quem cozinha esse jantar. Duran-
te anos tivemos uma incrível empregada, e
eu nunca sabia o que ia comer quando me
sentava à mesa... Há 20 anos que eu não me
preocupo com nada em casa, porque há
uma outra pessoa, que é bem paga, a pro-
pósito [risos], que trata de tudo. Portanto,
fazíamos questão de pelo menos um de nós
estar à mesa com as crianças para jantar. E
acho importante que haja sempre comida no
frigorífico. Acho superimportante ter toma-
do atenção ao seu percurso escolar. Mas, por
outro lado, não vi filmes durante uns cinco
anos, porque para mim não era importan-
te ir ao cinema. Era importante, porém, ter
sempre alunos de intercâmbio em casa no
verão, porque cresci como uma pessoa glo-
bal. E gostava de me levantar as 5h da manhã
para lhes preparar sanduíches, porque era
uma memória que eu tinha”, conta. Uma
das coisas que foi aprendendo com os anos


  • e que, admite, tem estado a tentar traba-
    lhar – é que o seu “ nível de intensidade é
    muito mais elevado do que o do resto da fa-
    mília”, conta com uma gargalhada. “Eu sou
    muito focada. O meu marido é muito mais
    intelectual e, por exemplo, às vezes ligo-lhe
    daqui e ele diz-me que está a pescar. Eu não
    consigo dizer-lhe como isso me irrita! E eu
    devia ficar contente por ele estar a pescar,
    mas irrito-me por ele estar ali todo descon-
    traído”, confessa divertida. Mas, acima de
    tudo, remata, “sei aquilo em que não sou
    boa”. E é essa lição que gosta de levar tanto
    para casa como para o seu escritório, onde
    hoje estão menos pessoas, por conta da pan-
    demia, mas de onde as acompanha para ter
    a certeza de que todas estão a atravessar este
    período com a maior paz possível. Uma das
    tendências para 2021, aliás. Paz em temos
    incertos. E


em formato digital, permite-me olhar de
uma forma muito aberta. É como se fosse
um puzzle que eu estou a montar”, explica.
É depois de juntar todas as peças e de lhes
dar sentido na sua cabeça, que olha para o
futuro e tenta antecipar comportamentos e
preocupações.

“YOU CAN DO IT ALL...
ONE THING AT A TIME”
Este ano, por exemplo, teve ainda mais tem-
po para pensar, uma vez que ficou várias
semanas confinada em casa. Foi também
quando sentiu vontade de recomeçar a es-
tudar. “Já viu o que é poder estar aqui a fazer
um mestrado numa boa universidade norte-
-americana? Através da internet? Não posso
perder a oportunidade”, diz entre uma pi-
poca e um sorriso descontraído. E, no meio
de tudo isto, Marian garante que dorme pelo
menos seis horas por noite. “Dormir o su-
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