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Todos são alunos e todos são professores.
Durante a fase de seleção,
os candidatos têm de resolver
exercícios e também avaliar os colegas
juntou a Pedro Santa-Clara, professor
de Finanças e responsável pela instalação
da Nova SBE no Campus de Carcavelos,
para trazer para Portugal este método de
ensino, que começou em Paris. Inteira-
mente gratuita, graças à participação
de mecenas, sem exigir qualquer for-
mação prévia e sem horários definidos
- a escola nunca fecha – o método tem
vindo a mudar completamente a forma
como se aprende a programar. Entre os
candidatos, há os mais variados perfis.
Dos jovens que procuram uma alterna-
tiva à universidade aos profissionais na
casa dos quarenta que querem mudar
de vida, passando por candidatos que
a pandemia atirou para o desemprego.
“Temos candidatos entre os 17 e os 61
anos, entre eles médicos, pilotos, paste-
leiros...”, exemplifica a responsável pela
comunicação, Mafalda Guedes.
Alexandre Pinto, 25 anos, vai no ter-
ceiro dia de ‘piscine’ e no terceiro café
do dia. Sempre gostou de programar e
de Matemática, mas a licenciatura nesta
área não lhe encheu as medidas – falta-
-lhe uma cadeira para acabar o curso e a
vontade para o terminar. Deixou Braga,
onde estuda e vive, para tentar a sorte
na 42. Até agora, não se arrependeu da
aposta feita. “Não tenho grande fé no
ensino superior, interessa-me experi-
mentar novas formas de aprender, como
a que estou a encontrar aqui”, conta.
A ESCOLA QUE
NUNCA FECHA
AS PORTAS
Aberta 24 horas por dia,
sete dias por semana, as
candidaturas estão abertas 365
dias por ano, online. Os próximos
Bootcamps – chamado ‘piscine’
e que corresponde à última
fase do processo de seleção
- começam a 23 de novembro
e a 4 de janeiro. O primeiro
curso em Lisboa terá início em
fevereiro do próximo ano.
“Andamos a seguir um modelo obsoleto,
onde não se cultiva o espírito crítico”,
denuncia.
UMA CAIXA COM
YOUTUBE DENTRO
Na 42, onde não há professores, apenas
lifeguards, ou nadadores-salvadores,
todos corrigem e todos são corrigidos. Do
processo de formação tanto faz parte a
resolução dos desafios, como a avaliação
do trabalho dos colegas. E é por isso que
apesar de este grupo só se conhecer há
três dias, a sensação quando se circula
pelo espaço é a de que são amigos de
toda a vida.
Raphael Baum estudou música e psi-
cologia. Quando entrou para a Escola
42, em Paris, o computador não era mais
do que uma caixa mágica, com Youtube
dentro. Candidatou-se exclusivamente
pelo método de ensino. Até que per-
cebeu que “programar é o melhor dos
videojogos”, conta. Gostou tanto da ex-
periência que acabou por se transformar
em ‘lifeguard’, sendo um dos quatro a
trabalhar agora na delegação lisboeta.
“O principal obstáculo nesta fase vem
da cultura que se traz da escola, a de
que falhar é mau. Quando se consegue
mudar o chip, começa-se logo a fazer
progressos”, avança. Mesmo quem não
tem qualquer experiência de programa-
ção acaba por, rapidamente, apanhar o
barco. A não ser que perceba que “isto
não é para mim” e decida saltar fora.
“Mais do que chumbar, esta experiência
intensiva [os 26 dias de ‘piscine’] serve
para que as pessoas percebam se é mesmo
isto que querem”, sublinha Pedro Santa-
Clara. Mas bem que podia ser para todos:
só na Europa, estima-se que faltem meio
milhão de programadores.
OS NÚMEROS
DA 42
5700
candidaturas (de julho a outubro)
33%
raparigas admitidas na primeira fase
17%
de raparigas na
última fase de seleção
26
anos é a idade média
63%
apenas concluíram o 12º ano