Revista Aventuras na Historia - Brasil - Edição 159 (setembro de 2016)

(lenilson) #1
TEXTO NATHALIA BUSTAMANTE | IMAGENS SHUTTERSTOCK E GETTY IMAGES

A reintrodução da filosofia
grega na cultura da Europa
Ocidental, na Baixa Idade
Média, foi um evento que
transformou profundamente
a vida intelectual daquelas
elites: até então não havia
nem interesse nem
disponibilidade de textos
clássicos. O cenário
começou a mudar quando,
com as Cruzadas, o saque
e finalmente a conquista
de Constantinopla, foram
levados de volta muitos
documentos conservados,
alimentando o Renascimento.
Isso não quer dizer,
porém, que o conhecimento
dos filósofos gregos foi
esquecido por quase mil
anos. Pouco depois da maior
expansão do islamismo, no
século 7, manuscritos gregos
foram traduzidos para o
árabe, e retornaram à
Europa com a ocupação
moura da Península Ibérica
e Sicília. Essas versões,
porém, já tinham
comentários de seus
tradutores e incorporavam
conceitos do islamismo.
O trabalho de tradução da
cultura islâmica, embora
realizado sem sistematização
alguma, foi uma das
grandes transmissões
de ideias da História.

Isso não quer dizer que o pensa-
mento filosófico grego tenha substi-
tuído o pensamento mítico, mas o
complementou. O filósofo Parmêni-
des, por exemplo, produziu um poe-
ma em que invoca uma deusa, para
depois oferecer argumentos expli-
cando suas percepções.
O Dicionário Oxford de Filosofia
apresenta o profeta persa Zaratrusta,
ou Zoroastro, como o primeiro na
cronologia da filosofia. O impacto dos
seus textos, datados do século 7 a.C.,
é sentido até hoje, pela inf luência na
formação do judaísmo e especialmen-
te pela racionalização da ética.
Em contato com esse conceito,
pensadores gregos desenvolveram
sistemas próprios de racionalização.
Os pré-socráticos, como Tales de Mi-
leto e Pitágoras, abordavam temas
como astronomia, ontologia e mate-
mática. Sócrates, por sua vez, tratava
da natureza humana, e foi o respon-
sável por trazer a filosofia para as
cidades, famílias, vida e moral. Nas-
cido em Atenas no século 5 a.C., é
considerado por muitos o pai da fi-
losofia ocidental como conhecemos.
Condenado à morte por envenena-
mento por lideranças locais que te-
miam sua inf luência entre os jovens,
teve o discurso de defesa registrado
por Platão, seu seguidor.
Desse período até as
guerras de Alexandre, o
Grande, por volta de 320
a.C., a Escola de Atenas
avançou muito nos as-
suntos e métodos
abordados pela filoso-
fia. Depois disso, o
pensamento filosófi-
co foi se alterando, num
caminho mais univer-
salista e materialista.
Sua inf luência foi grande

Sócrates
é o pai da
filosofia
ocidental

nos estudos e nas leis romanas. Du-
rante a Idade Média, porém, boa
parte das ideias gregas foi abando-
nada na Europa Ocidental.
Com o retorno da filosofia duran-
te o Renascimento, seu escopo foi se
especializando. Nas universidades
modernas, temas que iam da ética à
matemática acabaram se desdobran-
do em disciplinas separadas, como
psicologia, sociologia, linguística e
economia. O clássico Princípios Ma-
temáticos da Filosofia Natural, de Isa-
ac Newton, entrou para a História
como um livro de física.

O RETORNO


nos estudos e nas leis romanas. Du-
rante a Idade Média, porém, boa
parte das ideias gregas foi abando-

Com o retorno da filosofia duran-
te o Renascimento, seu escopo foi se
especializando. Nas universidades
modernas, temas que iam da ética à
O RETORNO

AH159_CFS.indd 15 8/2/16 1:42 PM

Free download pdf