Revista Aventuras na Historia - Brasil - Edição 159 (setembro de 2016)

(lenilson) #1
TEXTO FABIO MARTON | IMAGEM DIVULGAÇÃO MUSEU PAULISTA /REPRODUÇÃO HÉLIO NOBRE

COMITIVA MODESTA
Havia no máximo 14 homens na Guarda de Honra do imperador,
e certamente eles não estavam usando os uniformes de gala
da pintura, nem, se estivessem, pareceriam tão bem após
dias subindo a serra, em meio a lama e mato. O movimento
e o pó subindo de seus cascos também são artificiais,
como se os animais estivessem agitados, em plena batalha.

RIO INVISÍVEL
É fácil deixar passar
o próprio Rio Ipiranga
esquecido na parte mais
baixa do quadro. Isso porque
não é algo que daria para
romantizar: ele era um mero
córrego, com uma “margem
plácida” a centímetros da
outra. Hoje é um pouco mais
largo, mas por um péssimo
motivo: o volume extra vem
do esgoto jogado nele.

Pedro Américo transformou uma cena trivial e prova-
velmente bem feia num épico de batalha – colocando um
regimento inteiro vestido em uniformes de gala, prestes
a combater, alguns até em posição de combate, com seus
cavalos em movimento. Era certamente a forma como a
monarquia brasileira, invicta nas guerras que havia tra-
vado até então, preferia ser representada. Mas, como o
quadro, era mais pompa e circunstância que realidade:
no ano seguinte à conclusão da obra, o imperador seria
deposto num golpe militar. O Museu da Independência

(Museu Paulista), para o qual havia sido encomendado,
só seria aberto em 1895, já durante a República.
Ainda que o quadro certamente não retrate a vida real,
ele é verdadeiro de certa forma. O que dom Pedro fez,
seja lá como se sentisse dos intestinos, foi realmente um
gesto heroico: ao ouvir que a monarquia portuguesa o
havia tirado do cargo de regente do Brasil, ele imediata-
mente declarou guerra. Não há outra interpretação para
suas palavras – que, aliás, são um dos desafios mais
corajosos da História militar mundial.

RAIO X
NOME: Independência
ou Morte
AUTOR: Pedro Américo
DATA: 1888
TAMANHO: 415 x 760 cm
TÉCNICA: Óleo sobre tela
LOCAL: Museu Paulista,
São Paulo

A CASINHA
O pintor localizou a cena em frente a uma casinha rural


  • e tal casinha existia ao lado do terreno onde se estava
    construindo o Museu Paulista. A dita “Casa do Grito”
    existe ainda hoje. Mas, numa ironia histórica, foi
    reformada para parecer com a do quadro. Provavelmente
    não estava lá no dia do grito: o documento mais recente
    dela data de 1884, época da construção do museu.


AVENTURAS NA HISTÓRIA | 17

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