Revista Aventuras na Historia - Brasil - Edição 159 (setembro de 2016)

(lenilson) #1
mulheres que viviam da prostituição
era, em geral, o mesmo: “Elas vivem
da prostituição porque foram def lo-
radas e abandonadas ou porque se
separaram do marido e tinham filho
para sustentar, ou simplesmente por-
que estavam a ponto de se desesperar
por não poder ganhar dinheiro sufi-
ciente para comer. Quase sempre,
também, todas pretendem ficar por
pouco tempo na profissão e lamen-
tam o que estão fazendo”.
As mais requisitadas eram “as
fartas”, capazes de “encher uma
cama”. Mas mais importante é que
fossem discretas. Em 1979, o Brasil
assinou a Convenção contra o Tráfi-
co de Pessoas e Exploração da Pros-
tituição. A atividade não era crime
ilegal, mas sua exploração, por leno-
cínio ou tráfico de mulheres, sim,
conforme os artigos 227 e 231 do Có-
digo Penal Brasileiro. Atenta para o
fato, a CNBB – Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil – já chamara a
atenção para a situação das “mada-
lenas”, sugerindo apoios: “A prosti-

Por MARY DEL PRIORE
Doutora em história social com pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, vencedora do
Prêmio Jabuti e autora de Histórias Íntimas – Sexualidade e Erotismo na História do Brasil.

tuição, como instituição legal, é uma
mancha vergonhosa em nossa civi-
lização. É a aceitação de um fato, pos-
tulado pelo egoísmo dos homens,
propiciado pela fragilidade das mu-
lheres, amparado pela hipocrisia
generalizada”, registrou o arcebispo
dom Luciano Duarte.
A chegada da aids, nos anos 1980,
calou a cantoria das “cigarras”. Bor-
déis e casas noturnas esvaziaram-se.
Prostitutas e clientes foram vítimas
do vírus, aumentando a discrimina-
ção e o preconceito. Nessa década, o
debate sobre a violência contra as mu-
lheres se abriu também em defesa das
prostitutas. Vítimas de cáftens, poli-
ciais e clientes, e da doença, elas co-
meçaram a se organizar. Surgiram
movimentos para proteger as “traba-
lhadoras do sexo”. E as preocupações
morais e sanitárias evoluíram para
questões como cidadania e direitos.

Depois do I Encontro Nacional de
Prostitutas, na cidade do Rio de Ja-
neiro, em 1987, a estratégia para ga-
rantir o reconhecimento público da
profissão e a cidadania das “profis-
sionais do sexo” foi a criação e a le-
galização de associações em diferen-
tes estados. Dois anos depois, du-
rante o II Encontro Nacional de
Prostitutas, nasceria a Rede Nacio-
nal de Profissionais do Sexo. Nos
anos seguintes, um conjunto de en-
tidades foi criado nos diversos esta-
dos brasileiros.
Segundo relatório da ONU, em
2001, havia 100 mil mulheres e crian-
ças sexualmente exploradas no Bra-
sil. A vida dessas pessoas pouco
mudou de lá para cá... Dos bordéis às
boates e casas de massagem, e destas
para as telas do computador, a pros-
tituição confirma ser a mais velha e
maleável profissão do mundo.

mulheres que viviam da prostituição
era, em geral, o mesmo: “Elas vivem

tuição, como instituição legal, é uma
mancha vergonhosa em nossa civi-

Depois do I Encontro Nacional de
Prostitutas, na cidade do Rio de Ja-

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