CULTURA Foto-História TEXTO FABIO MARTON | FOTO ANNE FRANK FONDS/WIKIMEDIA COMMONS
U
ma foto banal de álbum de
família. Apenas meninas
brincando numa caixa de
areia. Mas a tampa da caixa, que pa-
rece prestes a se fechar sobre elas, é
um macabro augúrio do destino cruel
a elas reservado. Anne Frank, a se-
gunda da esquerda para a direita,
cujas memórias se tornariam um
best-seller imortal, é a única que se-
ria lembrada, após passar anos es-
condida com a família atrás do armá-
rio de uma casa em Amsterdã – outra
forma com que a caixa aponta funes-
tamente para seu futuro. Susane Le-
dermann, a que está de pé, teria o
mesmo fim que Anne, morrendo
num campo de concentração nazista.
A foto foi tirada em Amsterdã em
1937, quando Anne tinha entre 7 e 8
anos. Dois anos depois, o Exército
nazista invadiria a Holanda, cerce-
ando os judeus progressivamente,
até que, como aconteceu à família de
Anne, tivessem que fugir ou se es-
conder. A foto foi tirada pela mãe de
Barbara Ledermann, a última na
caixa à direita. Ela seria encontrada
pelo jornalista da revista Time Paul
Schultzer, em 1959, inocentemente
guardada por Barbara por 22 anos,
sem dar importância ao grande
status de celebridade que a amiga
Anne teria após a morte.
Schultzer foi então em busca das
outras sobreviventes, Hanneli Gos-
lar, à esquerda, Dolly Citroen e Han-
nah Toby. Todas haviam casado e
constituído família, superando as
atrocidades. A respeito dessas so-
breviventes, Paul Schultzer trans-
creveria em sua matéria uma passa-
gem otimista do Diário de Anne
Frank: “Acredito que tudo ficará
melhor, essa crueldade irá acabar e
a paz e a tranquilidade retornarão”.
Quantas fotos esquecidas como esta
não trazem a mesma tragédia?
UM RETRATO DE FAMÍLIA ANTES DA TRAGÉDIA
Anne Frank
(segunda da
esq. para a
dir.): uma
criança
comum
AMIGAS DE ANNE FRANK
58 | AVENTURAS NA HISTÓRIA
AH159_FH.indd 58 8/2/16 11:16 AM