O Tempo (2020-12-02)

(Antfer) #1

A


pós a confirmação da vitória
de Biden nas eleições, uma
das principais perguntas era
acerca do futuro de Trump co-
mo líder político nos Estados Unidos.
O republicano teve números eloquen-
tes nas eleições, com uma votação re-
corde de 74 milhões de votos e um de-
sempenho acima do esperado entre la-
tinos, o que expressa uma substantiva
adesão ao seu legado econômico pré-
pandemia e a uma agenda política com
características conservadoras e nativis-
tas – que se pode chamar, generica-
mente, de “trumpismo”.
Os números das eleições sugerem
que a influência de Trump nas urnas
não é negligenciável. O fato de ele ter
construído, ao longo de seu governo, as
imagens políticas de seus filhos e de seu
genro reforça ainda mais o trumpismo
como plataforma política-eleitoral.
Nas próximas semanas, o maior de-
safio para o futuro do trumpismo é a cor-
rida eleitoral para as cadeiras da Geór-
gia no Senado. As duas vagas do Estado
ainda estão em aberto, porque nenhum
candidato, para ambas as vagas, obteve
50% dos votos nas eleições que acaba-
ram de ocorrer. Assim, ambas serão de-
cididas em um segundo turno em janei-
ro de 2021. Atualmente, os republica-
nos controlam 50 cadeiras do Senado, e
os democratas, 48. Uma dupla vitória de-

mocrata – por ora o cenário menos prová-
vel, mas não impossível – não representa-
ria um empate, mas o controle do Sena-
do, uma vez que, nesta Casa legislativa,
nos Estados Unidos, o vice-presidente da
República detém o voto de desempate.
Destaca-se que Geórgia apresenta,
desde 1972, resultados favoráveis aos re-
publicanos nas eleições presidenciais.
As vitórias democratas são uma exceção
e ocorreram somente com Carter, natu-
ral do Estado, em 1976 e 1980; Clinton
em 1992; e Biden em 2020 – 49,5% con-
tra 49,3% de Trump. Especialistas
apontam para alguns fatores que po-
dem explicar essa alteração na posição
histórica do Estado.
Primeiro, uma mudança demográfica
nos dez condados que compõem a Atlan-
ta Regional Commission, onde vivem
aproximadamente 45% da população da
Geórgia. Nessa área metropolitana, verifi-
ca-se um aumento de parcelas da popula-
ção que têm preferências políticas próxi-
mas à agenda democrata, sobretudo de
latinos, negros e asiáticos. Soma-se, ain-
da, um aumento do engajamento cívico e
político desencadeado pela candidatura
de Stacey Abrams pelos democratas para
o governo do Estado em 2018.
Além disso, os candidatos democratas
têm melhorado o seu desempenho em re-
giões predominantemente republicanas,
incluindo nas franjas dos subúrbios

(exurb), que são formadas por uma classe
média majoritariamente branca que se des-
locou para essas áreas em busca de maior
qualidade de vida e de menores custos.
Outro fator que potencialmente expli-
ca o sucesso democrata na Geórgia é um
sentimento anti-Trump, uma vez que o
bom desempenho eleitoral dos democra-
tas se acelera a partir de 2016.
Esse é o primeiro grande desafio que
Trump enfrenta para se consolidar co-
mo liderança política após as eleições de


  1. Ele precisa mostrar a viabilidade
    de seu nome como candidato ou cabo
    eleitoral para candidaturas republica-
    nas e afastar a sensação de que a sua re-
    jeição impõe um teto de votação muito
    baixo, o que dificultaria as vitórias eleito-
    rais de seu partido.
    Portanto, uma dupla vitória democra-
    ta na Geórgia representaria não somen-
    te uma trifecta do partido de Biden nas
    eleições, controlando Presidência, Câ-
    mara de Deputados e Senado, mas uma
    primeira derrota do trumpismo após
    2020, que teria o condão de acelerar a
    disputa pela liderança e pelo futuro do
    Partido Republicano.


A disputa por vagas do Senado e o futuro dos republicanos


O.PINIAO

O CRIME


AVANÇA


Editorial


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Brasileiros se vangloriam de não ter atentados
terroristas em seu país, pelo menos não como
aqueles vistos no Oriente Médio, na Europa e
nos Estados Unidos. Mas o chamado “novo can-
gaço” impõe terror a moradores de cidades do
interior, que ficam apreensivos diante da possibi-
lidade de surtos desse tipo de crime, como acon-
teceu em 2018 no Sul de Minas Gerais. Ontem,
Criciúma (SC) foi palco dessa prática em sua for-
ma clássica: bandidos em carros pretos, forte-
mente armados e coordenados, reféns expostos
na rua e barulhos de tiro.
Chamou atenção a complexa organização dos
autores do crime. A forma como o ataque se
deu revela que os autores planejaram de forma
detalhada cada passo do assalto e conheciam a
cidade, mesmo sendo provavelmente de outro
Estado, como disse o governador de Santa Ca-
tarina. E, para a infelicidade da população, ob-
tiveram sucesso.
Toda essa movimentação não acontece do dia
para a noite, mas parece ter passado despercebi-
da pelas autoridades. Os bandos especializados
no novo cangaço costumam roubar carros de al-
to valor para a prática do crime e ter acesso a
armas de uso exclusivo do Exército por meio do
tráfico. Ou seja, se valem de várias falhas da se-
gurança pública em todo o país para ascende-
rem na carreira criminosa.
O novo cangaço desafia o Estado. Às polícias ca-
be detectar com antecedência os passos dos gru-
pos que planejam os atentados. Isso só é possí-
vel com investimento em inteligência capaz de
captar troca de informações, acompanhar con-
versas de facções que podem estar envolvidas e
atingir o núcleo financeiro das quadrilhas. É pre-
ciso também responder rapidamente à bandida-
gem, localizando os autores e aplicando a lei de
forma exemplar por meio da Justiça.

Geórgia testará a viabilidade


eleitoral do trumpismo


OBSERVATÓRIO
DAS ELEIÇÕES DOS EUA

MARIO SCHETTINO VALENTE
Cientista político e professor
de relações internacionais do Ibmec BH

Além de Mário Schettino Valente, são
coautores deste artigo Fabiana Diniz Bastos
e João Gabriel Baldo, alunos de relações
internacionais do Ibmec-BH e assistentes do
Observatório das Eleições dos EUA.

~


Duke


http://www.dukechargista.com.br

16 | O TEMPOBELO HORIZONTE|QUARTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2020 OPINIÃO


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