O Tempo (2020-12-02)

(Antfer) #1
“Mariana é a mãe de Mi-
nas, a primeira vila e capi-
tal do nosso Estado”, define
o pesquisador da história
da região Cristiano Casimi-
ro dos Santos. Fundada em
1696, 24 anos antes da se-
paração das capitanias de
Minas do Ouro e São Paulo,
o então Arraial do Carmo atraía
pessoas de todos os cantos do mun-
do em busca do ouro que acabava
de ser descoberto e se tornou sede
administrativa do lado mineiro da
capitania. Em 1711, recebeu a pri-
meira Câmara de Vereadores.
Com a fundação de Minas Ge-
rais, em 2 de dezembro de 1720, a
vizinha Vila Rica, como era chama-
da Ouro Preto, foi instituída capi-
tal. Mas Mariana nunca perdeu seu
título de ‘berço’ para a criação do
Estado e todos os anos recebe a cele-
bração que transfere simbolicamen-
te a capital de Minas para a cidade.
A grande mudança no desenvol-
vimento de Mariana aconteceu em

1745, quando a Igreja Católica deci-
de instalar na vila a primeira arqui-
diocese do Estado. “Com a vinda
do bispo, ele não viria para uma
vila, então eles elevam o local à
categoria de cidade com o nome
de Mariana, em homenagem à es-
posa de dom João V, dona Maria
Ana de Áustria”, relata Santos.
Para que a alta hierarquia do cle-
ro ficasse bem instalada, o rei de Por-
tugal envia o engenheiro militar Jo-
sé Fernandes Pinto Alpoim para re-
desenhar a cidade. “Ele coloca três
ruas principais e nove perpendicula-
res. E a cada três esquinas, é construí-
da uma praça. Isso é muito interes-
sante para a época, porque surge
uma cidade organizada”, explica.
Em 1750, é criada a primeira
instituição de ensino superior de
Minas, o Seminário de Nossa Se-
nhora da Boa Morte. “Tivemos
também a primeira unidade de
educação para mulheres, e todos
os padres do Estado se formaram
aqui entre 1750 e 1850”, conclui.

ALEXANDRE MOTA

Inusitado.
Praça Minas Gerais,
em Mariana,
tem duas igrejas
imponentes

MarianaMariana


Capítulo 1: região Central, onde tudo começouCapítulo 1: região Central, onde tudo começou


Histórias de dor, amor


e luta pela liberdade


ra dia de são João
quando uma comitiva
de exploradores
chegou às serras de Ouro
Preto para procurar ouro e
índios que seriam
escravizados.

Ao chegarem à parte mais
alta (pico do Itacolomi),
eles acharam uma pedra
que escondia em seu centro
uma cor similar ao ouro.

O material foi levado
para análise, e o rei de
Portugal, comunicado.
A partir daí, todas as
nações ficaram sabendo
da raridade desse ouro.

Ouro Preto se
transforma no centro do
mundo, e tudo que era
moda na Europa
também era
moda aqui.

Por conta da exploração
crescente, a Coroa
Portuguesa determina a
criação do quinto: de
tudo que era extraído,
20% deveria ser
entregue ao rei.

COMO SURGIU O ESTADO


Dom João V,
rei de Portugal

E
Pico do Itacolomi

No fim do século XVII


A mãe A mãe de Minasde Minas


7


“Cada pedra do calçamento,
cada sacada desse conjunto
arquitetônico traz uma memória...
de amores, dores, poemas, sofri-
mento, sangue e luta pela liber-
dade”. É assim que a historia-
dora Margareth Monteiro,
diretora do Museu da In-
confidência, define Ou-
ro Preto, na região Cen-
tral, oficialmente a pri-
meira capital do Estado.
Mesmo quem traba-
lha há 50 anos como guia de
turismo na cidade se surpreen-
de. “Cada dia é um novo descobri-
mento”, conta Nelson Marcos da

Silva, 69. Com passos vagarosos,
ele nos leva à “joia de Ouro Preto”,
como ele carinhosamente apelidou
a Capela de Padre Faria, o templo
mais antigo ainda de pé na cidade.
Apesar da simplicidade da fa-
chada, o local esconde grandes
riquezas. O altar é coberto pelos
primeiros quilates de ouro extraí-
dos da região. Do lado de fora da
capela, mais uma descoberta: o
sino trazido em 1750 de Portu-
gal, também considerado o mais
antigo de Ouro Preto. “Existe
uma lenda de que ele tocou
quando Tiradentes foi morto,
em 1792”, acrescenta Silva.

Nossa viagem pela história de Minas Gerais começa pela acolhedora Mariana, na região
Central, a primeira das três capitais do Estado e pioneira também na área da educação

Ouro PretoOuro Preto


Nelson se
entusiasma
ao falar de
Ouro Preto

7


Em novembro de 1889, foi
proclamada a República
no Brasil, um ano após a aboli-
ção do regime escravagista. E,
com a chegada do novo tempo,
também cresceu a vontade de
romper qualquer ligação com o
período imperial e de colônia.
Para os políticos da época, a en-
tão capital Ouro Preto represen-
tava tudo isso, além de trazer di-
ficuldades de expansão por con-
ta do relevo acidentado.
O governo decidiu instituir,
então, em 1894, uma comissão
que seria responsável pela mu-
dança da sede administrativa do
Estado. Entre as cinco opções dis-
poníveis, o então Arraial do Cur-
ral del Rey foi escolhido. “O pra-
zo para a entrega da nova estru-
tura seria de três anos. Todas as

edificações do vilarejo, que ficavam
no entorno da atual igreja da Boa
Viagem, foram demolidas”, conta a
historiadora Letícia Schirm, da Fun-
dação Municipal de Cultura de Be-
lo Horizonte. Restou apenas uma
antiga fazenda, às margens do cór-
rego do Leitão, que atualmente é o
museu Abílio Barreto.
Chefiada pelo engenheiro Aa-
rão Reis, a comissão entregou o
projeto inovador que daria ori-
gem a Belo Horizonte. Em um tra-
çado de ruas perpendiculares, cor-
tadas por avenidas diagonais e
quarteirões de tamanho regular, a
cidade ficou pronta em 12 de de-
zembro de 1897. Surgia a primei-
ra capital planejada do país, com
estruturas construídas do zero,
sem qualquer lembrança do passa-
do como arraial.

A metrópole e o


encontro com a


mineiridade


ƒ de um dos bairros mais tradicio-
nais de Belo Horizonte, o Santa Tere-
za, na região Leste, que o escritor
Luis Góes sintetiza a capital: “Uma ci-
dade que recebeu mineiros das mais
diversas localidades, que se tornou
um encontro de culturas e costumes
do Estado”.
Apaixonado pela história de BH,
ele já lançou diversos livros, sendo
um dos últimos sobre o bonde, que
foi o principal transporte coletivo en-
tre 1912 e 1963. “Muitos consideram
esse período como os anos dourados
de Belo Horizonte”, recorda Góes.

Aproxime a
câmera do
celular para
ver o conteúdo
digital sobre as
três capitais
do Estado de
Minas Gerais.

Belo HorizonteBelo Horizonte


Do passado para a modernidadeDo passado para a modernidade


Ícone do Santa
Tereza, Luis Góes
tem diversos li-
vros sobre o
bairro de BH

Praça Sete.
Do coração de
BH partem as
principais
avenidas do
traçado inovador

2 | O TEMPOBELO HORIZONTE|QUARTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2020 CONTEÚDO ESPECIAL

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