O Tempo (2020-12-02)

(Antfer) #1

Planalto


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BRASÍLIA. Responsável
pela articulação políti-
ca do Planalto, o ministro
Luiz Eduardo Ramos (Secre-
taria de Governo) afirmou
ontem que os partidos do
“centro democrático” vence-
ram as eleições municipais
e que agora é momento de
aprovar “pautas importan-
tes” no Congresso.
“O segundo turno das
eleições municipais reforça-
ram minha última análise.
Os partidos do ‘centro de-
mocrático’ venceram de ma-
neira inquestionável e na
sua grande maioria fazem
parte da base do governo”,
escreveu Ramos numa rede
social. Em seguida, ele des-
tacou o número de prefeitu-
ras conquistas por MDB,
Progressistas, PSD, DEM,
Republicanos e PTB.
As legendas citadas pelo
ministro defendem pautas
liberais na economia, mas
nem todos integram a base
governista. Em sua mensa-
gem nas mídias sociais, o
ministro afirmou ainda acre-
ditar “na responsabilidade
política do Congresso”.
A equipe econômica do
governo tenta impulsionar
no Legislativo uma série de
matérias, como a reforma
tributária e a PEC Emergen-
cial – que prevê medidas
que reduzem benefícios de
servidores e cria gatilhos pa-
ra conter o avanço das des-
pesas. Apesar do apelo de
Ramos, a expectativa no
Congresso é que nos próxi-
mos meses as discussões es-
tejam dominadas pela elei-
ção da presidência da Câma-
ra e do Senado.

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Contra Bolsonaro


¬SÃO PAULO. Após uma elei-
ção em que deixou de con-
quistar capitais pela primei-
ra vez, viu seu número de
prefeituras cair quase um
terço e teve questionada a
força do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o PT ad-
mite que sofreu um dos
maiores reveses de sua histó-
ria. Mas afirma que parte
das razões para isso fugiu ao
seu controle.
O partido agora tenta se
recompor para evitar a repe-
tição desse cenário em 2022
e busca dissociar os resulta-
dos de domingo (29) das
chances de retomar a Presi-
dência.
“Não podemos dourar a
pílula, o PT sofreu uma der-
rota”, diz o secretário de co-
municação da sigla e candi-
dato derrotado a prefeito de
São Paulo, Jilmar Tatto. O
problema de fundo, diz ele,
é que o eleitorado não enxer-
gou no partido uma alterna-
tiva ao governo de Jair Bolso-
naro. “O povo foi conserva-
dor. Em 2018, votou no Bol-
sonaro e sua vida piorou, em
função da pandemia e do de-
semprego. Mas agora ficou
com medo de mudança”,
analisou.
Em termos práticos, isso
significou, segundo Tatto, a
opção por candidatos e parti-

dos tradicionais. “Esse movi-
mento do eleitorado contra
Bolsonaro não veio para nós,
ele foi para o centro”, diz.

LADO POSITIVO. Apesar disso,
Tatto aponta como triunfo o
fato de o PT ter contribuído
para a derrota de candidatos
mais ligados ao presidente:
“Iniciamos a campanha para
derrotar o obscurantismo e o
fascismo. Isso nós consegui-
mos, não é pouca coisa”.
Mesmo tendo queda de
256 para 183 cidades admi-
nistradas, ou 28,5%, o PT en-
xerga pontos positivos numa
eleição deprimente: conse-
guiu estar em 15 segundos
turnos e venceu em quatro:
Contagem e Juiz de Fora, em
Minas, Diadema e Mauá, em
São Paulo. Especialmente fes-
tejado foi o fato de ter retorna-
do ao poder na região do
ABCD Paulista, berço do parti-
do. No cômputo geral, o PT
manteve praticamente inalte-
rado o número de eleitores
que governará, pouco mais
de 6 milhões.
O fato de a base de compa-
ração ser com 2016 não serve
de grande alento, no entanto,
porque representou o fundo
do poço para o partido, duran-
te o auge da Lava Jato. Em
um balanço publicado em seu
site, o PT diz que parte do re-
sultado negativo se deve a
uma ofensiva desleal que so-
freu. “O Brasil viveu neste se-
gundo turno as eleições mais
sujas de sua história, diante
da conivência das autorida-

des e da mídia hegemônica,
retrocedendo o país aos tem-
pos da República Velha”.

ZERO A ZERO. O senador Ja-
ques Wagner (BA) questiona
a avaliação de que o partido
perdeu, e considera que o re-
sultado ficou no “zero a ze-
ro”. “É evidente que a gente
esperava que o desempenho
fosse melhor. Mas segura-
mente não é a catástrofe que
alguns querem impor”. Hou-
ve uma série de dificuldades,

afirma Wagner. Uma das prin-
cipais, diz, é o fato de Lula
não ter podido fazer campa-
nha pelo Brasil, como costu-
ma acontecer em todas as elei-
ções, por causa da pandemia.
Outro ponto destacado
como prejudicial ao PT foi a
liberação do auxílio emer-
gencial pelo governo fede-
ral, que favoreceu quem bus-
cava a reeleição. “Quem está
sentado na cadeira, no mo-
mento em que o povo está
doente e assustado, e com o

auxílio que chegou, teve
uma condição privilegiada”,
diz Wagner.
Ex-presidente do partido,
o deputado Rui Falcão (SP)
afirma que a eleição mos-
trou um PT resistente, mas
que precisa fazer um balan-
ço interno. “A eleição mos-
trou que o PT, mesmo ataca-
do pela direita e pelas elites
dominantes, não desapare-
ceu. Permanece vivo, embo-
ra deva passar por um balan-
ço autocrítico e por reformas
profundas”, disse Falcão.

Ramos vê


vitória do


centrão na


eleição


Ciro defende aliança com siglas que não adotam posições radicais

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SÃO PAULO. O ex-governa-
dor do Ceará e ex-minis-
tro Ciro Gomes (PDT) afir-
mou ontem que o Brasil preci-
sa de uma aliança de centro-
esquerda e centro-direita pa-
ra fazer frente ao presidente
Jair Bolsonaro em 2022.
“Mais do que viável, acho ne-
cessária”, disse em entrevista
ao Uol, após ter sido questio-
nado sobre uma declaração
do presidente da Câmara, Ro-
drigo Maia (DEM).
Um dia antes, Maia citou
Ciro e outros nomes, como o
governador de São Paulo,
João Doria (PSDB), e o apre-
sentador de TV Luciano
Huck, para formar uma fren-
te de centro nas próximas

eleições. Para Ciro, a esquer-
da precisa formar uma alian-
ça com a política de centro,
que tradicionalmente se alia
à direita no país, para chegar
na eleição de 2022 com mais
chances de vitória.
“O futuro, do meu ponto
de vista, pede o encerramen-
to da ilusão neoliberal e a for-
mulação, em um ambiente
muito difícil e complexo, de
um projeto nacional de desen-
volvimento. Esse projeto, pa-
ra ser viável, tem de tomar
uma parte do centro político
da sua tradicional relação um-
bilical com a direita”, disse.
Questionado sobre se
acharia mais fácil construir
uma aliança com o ex-presi-

dente Luiz Inácio Lula da Sil-
va (PT) ou com Doria, Ciro
disse que não acredita nem
em uma coisa, nem em outra.
Ele defendeu uma aliança
entre PDT, PSB, Rede e PV pa-
ra a travessia de um primeiro
grande obstáculo, “com seus
15%, 14% de intenções de vo-
tos”, para depois se discutir a
continuidade desse processo.
“O que vou fazer, à luz do dia,
na frente de todos, é tentar
capturar um pedaço de cen-
tro-direita para uma ampla
aliança na centro-esquerda”,
disse Ciro. “Se eu conseguir is-
so, vou ser o próximo presi-
dente do Brasil. Senão, eu bo-
to a viola no saco e vou ser um
livre pensador”, concluiu.

Ciro quer aliança com o centro


Revés histórico. Lideranças consideram momento de reformas internas para reconquistar o eleitor até 2022


Pela primeira vez o
partido não teve
prefeito eleito em
nenhuma capital

FABRICE COFFRINI / AFP

No divã. Principal cabo eleitoral do PT nos últimos anos, Lula e o partido terão que avaliar resultados ruins

Força de Lula é contestada, e PT


admite erros no pleito municipal


Dependência


Centrão. Segundo rela-
tos feitos por auxiliares
palacianos, o pleito mu-
nicipal deve reforçar a
relação de dependência
do governo com o cen-
trão nos próximos anos.

POLÍTICA O TEMPOBELO HORIZONTE| QUARTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2020 | 5


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