Elle - Portugal - Edição 386 (2021-01)

(Antfer) #1

26 ELLE PT


IMAGEM : CORTESIA KENZO

CRIADORES


o dia 26 de fevereiro estávamos no 5º Arrondissement
de Paris, onde havia sido montada uma grande estrutura
tubular transparente para dar lugar ao primeiro desfile
deFelipe Oliveira Batista na Kenzo. Ali, no seu inte-
rior, à medida que íamos entrando, não conseguíamos
evitarpensar em todos os que ali estavam e que tinham estado
naSemanade Moda de Milão, com receio de que a qualquer
momentocomeçassem a tossir e a passar o tal vírus que havia
chegado da China e se tinha espalhado por toda a região da
Lombardia. Na altura, ninguém usava máscara – nem os que
diziam que era apenas “gripe” nem os que estavam realmente
preocupados com este possível cataclismo sanitário – e ainda
pensávamos que poderíamos passar as nossas próximas férias a
fazer aquilo que o tema da apresentação sugeria: Going Places.
A coleção de outono-inverno era perfeita para percorrer
todos os continentes e estava cheia de sugestões feitas para um
nómada de luxo. Como sempre, as peças de Felipe Oliveira
Batista eram comparáveis a uma incrível peça de design:
elegantes e funcionais, mas também ergonómicas e sensuais.
«O Felipe sempre soube combinar rigor com fluidez nas
suas peças», comenta Serge Carreira, especialista em moda
e professor na Sciences-Po (Instituto de Estudos Políticos de
Paris). É um facto que o atual diretor criativo da Kenzo é um
amante de arquitetura, e isso acaba por transparecer na forma
como aborda as volumetrias, fazendo com que as suas peças

tenham algo que é, ao mesmo tempo, rigoroso e emotivo... O
seu talento faz com que consiga combinar as diferentes formas
do corpo de uma maneira muito interessante. Isso faz com que
as suas peças tenham uma identidade própria e um cunho forte
que está sempre presente, independentemente da peça ou da
estação. Isso, e agora (também) a linguagem estilística da Kenzo,
com os seus padrões florais e com o célebre motivo do tigre.
Ah, sim, o tigre... Excluí-lo seria impossível. Segundo reza a
lenda, o seu fundador Kenzo Takda (que faleceu recentemente
vítima do Coronavírus) teria tido uma epifania, na década de
60, ao descobrir as pinturas de Douanier Rousseau em Paris,
pouco tempo depois de ter chegado do Japão com o sonho de
trabalhar em moda. Terá sido assim que o animal começou a
reinar sobre a marca que inicialmente se chamava Jungle Jap.
Após Kenzo Takada ter deixado a marca em 1999 (que
pertence ao grupo LVMH desde 1993), os seus sucessores não
perderam de vista as florestas tropicais: Carol Lim e Humberto
Leon, diretores artísticos de 2011 a 2019, criaram, por exemplo
a conhecida camisola bordada com o tigre, presente em loja,
estação após estação, e que se tornou num bestseller, sem dúvida,
mas que resume Kenzo a um só produto. É por consequência
disso que a presença de tigres estampados nas peças da primeira
coleção de Felipe Oliveira Baptista para a marca não nos deixa
minimamente surpreendidos. No entanto, ficámos agradavel-
mente admirados ao ver a forma como ele se apoderou desta

TIGRE


PARA LÁ DO


Felipe Oliveira Batista doma com garra o icónico animal selvagem
e dá à Kenzo um novo e mais sofisticado rumo.

N

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