Elle - Portugal - Edição 386 (2021-01)

(Antfer) #1

ESTILO


38 ELLE PT


tive que tomar e que me custou foi deixar de desfilar na Moda
Lisboa, no Portugal Fashion e em todos os outros desfiles»,
recorda com pesar .«Quando comecei a trabalhar (mas prin-
cipalmente a desfilar), eu apanhei a geração anterior, da Xana
Nunes, da Sofia Aparício... e eu lembro-me de nós estarmos
nos bastidores e de perceber que se notava a diferença entre nós
mais novas e elas mais velhas, e na altura não achava isso bonito.
Lembro-me de pensar “Eu não quero que isto aconteça comigo,
quero ser eu a ter essa noção e deixar de fazer
isto primeiro”. E então chegou ali aos 25 anos
e disse: “Está na hora”. Entretanto também já
estavam a começar a chegar outras miúdas que
em termos de imagem eram diferentes das da
minha geração, eram muito mais magras, e eu
sou muito mais latina».
À luz da época, consigo perceber a sua
decisão, afinal de contas, havia de facto esta
ideia de que as modelos tinha uma prazo de
validade que expirava bem cedo. E no caso
de Luísa, como a própria me referiu, por ter
a sua imagem tão aberta ao escrutínio, esta
decisão acabou por se tornar numa espécie
de método de autopreservação. Claro que
não foi uma decisão fácil, «quando voltei à
Moda Lisboa como convidada para assistir
aos desfiles, lembro-me de pensar “quem me dera estar ali”
(...) tinha aquelas ideias malucas de, “então e se agora me
levantar e [começar a desfilar]”». Mas, mesmo assim, nunca
se arrependeu da escolha tomada.

LUÍSA TEVE TUDO AQUILO QUE SE PODE DESEJAR:
trabalhou com diversas marcas, fotografou para muitas pu-
blicações e desfilou para múltiplas marcas, dentro e fora do
país... Enfim, um currículo invejável que a fez viajar pelos
quatro continentes, e que só não a levou, possivelmente, a uma
carreira mais intensa lá fora por não querer estar mais afastada
de todos que amava do que já estava. «Comecei a sentir-me
sozinha, comecei a sentir que estava a perder muita coisa (...)
estive cinco anos a trabalhar todos os dias. Só parava no Natal.
Nem a Páscoa passava com os meus pais e avós. Eu chegava a 24
de dezembro a Lisboa ou ao Porto e ia direta para casa dos meus
avós para passar o Natal. E entre o dia 27 e o dia 30 ainda tinha
um trabalho em Lisboa ou noutro sítio qualquer» relembra.
A mulher forte que hoje está sentada diante mim, e que

só deixa que se aproxime de si quem ela quer, desde que
abandonou a profissão optou por dedicar grande parte do seu
tempo a outro trabalho ainda mais importante para si: ser mãe.
Ao falar sobre os filhos, emociona-se. Nota-se que é uma
“mãe babada” e que tenta transmitir aos seus descendentes
tudo aquilo que aprendeu ao longo da vida – como o sentido
de individualidade, o de valor próprio, o da liberdade... «São
miúdos muito educados, não é por serem meus filhos, e toda a
gente diz a mesma coisa não é?! Mas são muito educados, têm
uma perspetiva de vida que muito poucas crianças têm e isso
é uma coisa que me dá imenso prazer e me faz sorrir e chorar,
porque é o reconhecimento de que, apesar das muitas adver-
sidades que passei, eles conseguiram ser e são super fortes».
Mas desengane-se se pensa que a ex-modelo, ao deixar esta
indústria deixou de estar atenta ao que se passa nela. «Acho
ótimo esta variedade, acho ótimo esta diversi-
dade. O que me custa mais assistir é à questão
de ser tudo mais volátil, mais descartável»,
diz referindo-se às mudanças dos último ano.
Atualmente, Luísa conta com mais de 47 mil
seguidores nas redes sociais, e é lá que partilha
os seus looks e trabalhos que faz com as marcas
que escolhe a dedo, como é o caso da Falconeri.
A marca especializada em peças em caxe-
mira, que só há dois anos chegou a Portugal,
é uma daquelas com as quais Beirão colabora
regularmente, e por isso, pergunto como tudo
começou. «Percebi que, como era uma marca
nova cá, precisava de um input, de pessoas,
e pensei: “É mais um desafio” (...) Pronto
e aceitei e tive também o privilégio de ir
até Verona assistir ao desfile, ver a fábrica,
conhecer a forma como são feitas as peças e todo o cuidado
que existe em todo o processo». Confessa que adora caxe-
mira. «Este hoodie, por exemplo, com o capuz, é uma peça
confortável» diz, referindo-se à que usou na produção, «seja
para estar em casa, para ir buscar os miúdos ao colégio, para
sair. É versátil. Podes pôr uma saia ou um vestido de seda
por baixo e resulta. Eu acho que quando uma peça é boa,
quando tem qualidade, é muito fácil de usares e abusares
dela. E é o caso das peças Falconeri». Mas que outras peças
da marca são indispensáveis para si? «O trench», começa
por dizer, «é um modelo eterno. Eu olho para a peça e con-
sigo ver a minha filha daqui a cinco anos com ele, é super
leve, prático e elegante. E também adoro as camisolas, as
tradicionais camisolas de caxemira.»
Terminamos por aqui. Após a última pergunta despedimo-
-nos. Não sei ao certo quando é que a vou voltar a encontrar
novamente, mas é garantido que tornará a acontecer. Até
porque, por muito que Luísa Beirão se queira afastar do
mundo da moda, o mundo da moda não se quer afastar dela. n

«QUANDO
VOLTEI À MODA
LISBOA COMO
CONVIDADA,
PARA ASSISTIR
AOS DESFILES,
LEMBRO-ME
DE PENSAR
“QUEM ME DERA
ESTAR ALI”»
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