Elle - Portugal - Edição 386 (2021-01)

(Antfer) #1

FOTO: SHUTTERSTOCK (1); IMAXTREE (1)


que, também por ser a moldura do nosso rosto, acaba por ter
muito impacto», destaca Filipa Jardim da Silva, psicóloga
clínica (@filipajardimdasilva.psicologa).
O cabelo ser uma parte importante da nossa identidade
enquanto mulheres é um facto histórico e cultural. Desta
forma, as mudanças de visual – independentemente de ser
um corte, um penteado novo ou uma cor diferente – são
usadas como mensagens para o mundo exterior. Este con-
ceito é continuamente perpetuado por Hollywood, tanto
em ficção (como o caso da Hannah, em
Girls, entre outros) como na vida real.
Toda a gente se lembra da cabeça rapada
de Britney Spears em pleno 2007: re-
cém-saída de uma clínica de reabilitação
e a meio de um processo de divórcio
muito mediático, a cantora dirigiu-se
a um salão de cabeleireiro e ela própria
rapou o seu cabelo com uma multidão
de paparazzi a registar o momento.
O que muitos disseram ser apenas o
resultado de excessos, revelou-se, antes
de tudo, uma tentativa frustrada de
tentar ganhar algum controlo sobre algo
na sua vida, como foi partilhado num
documentário do canal inglês Channel
5 sobre a cantora anos mais tarde.

NO MEIO DE TUDO O QUE acontece no
mundo, o cabelo parece ser um alvo
fácil de ser controlado e «assume uma
dimensão de projeção de uma mudança
[interna] que aconteceu, mas também
alavanca uma mudança que nós quere-
mos consolidar», aponta a psicóloga.
Isto é, fazer uma intervenção capilar
tanto é uma prova da mudança que
está acontecer a nível interior, como
pode ser a força impulsionadora que
conduz à mudança. Dois exemplos disto mesmo«sãopes-
soas que fizeram o coming out e já podemseraquiloque
sempre foram», conta Maria Castello Branco,hairstylist
e proprietária do Sala Hair Studio (@sala_hairstudio)ou
o breakup hair, mais conhecido como uma«mudançade
cabelo no seguimento de ruturas amorosas.Ouseja,“rompi
com um laço importante na minha vida, portanto,queroter
um marcador visual para além daquele emocionale interno;
quero ter um marcador externo e concretodeformaa que
eu olhe e veja uma diferença, porque dealgumamaneira
preciso disso”», explica Filipa.
O processo de aceitação da mudança passamuitopelasua
materialização física e «o cabelo, muitas vezes,é ummarcador

visual que todos os dias nos pode recordar do caminho que
podemos percorrer», lembra a psicóloga. Ou seja, precisamos
de ter consciência que qualquer intervenção que possamos
fazer ao nosso cabelo é apenas um instrumento e não uma
mudança de vida instantânea. «O exterior pode ajudar-nos,
obviamente. Mas é importante colocarmos o foco dentro,
no sentido de “eu preciso de pensar diferente, eu preciso de
sentir diferente”», conclui Filipa. É mesmo uma questão de
amor-próprio; é um compromisso que fazemos, connosco,
de que cuidamos de nós e não menos-
prezamos a nossa saúde mental nem a
nossa aparência. «Com tantos aspetos
que nós não controlamos, a ideia aqui
é focarmo-nos em algo que podemos
controlar – o que não acontece com a
pandemia obviamente – e, assim, sen-
timos que controlamos alguma coisa»,
contextualiza a psicóloga relativamente
ao momento que vivemos.

UM CORTE DE CABELO RADICAL ou
uma cor completamente diferente não
lhe garante uma mudança de vida, como
já vimos. Mas, quer seja o fim de uma
relação, uma saída do armário ou apenas
umavontadefortedemudaro rumo
dasuavidasemmaisnenhummotivo
aparente(o queé igualmenteválido),se
querrecuperaro controlodoseudestino
começandocomumaintervençãoao
seucabelo,nãodêumadeHannahe
procureumprofissional.Já bastatodoo
trabalhoemocionalquetempelafrente,
nãoprecisade acrescentarumcortemau
e umasériedeexpectativasgoradasà
bagagem.«Oprimeiropassoé avaliar
se essamudançavaifavorecera cliente.
Favorecendo,é importantequehaja
umaconversade aindaalgumtempoparamecertificarde que
a mudançadevisualé feitacomconsentimentoinformado,
istoé, dequenãosóa clientetema certezadamudança,
comotemconhecimentodetodosos cuidadosa teremcasa,
queprodutosutilizare comosecar/pentear»,explicaMaria
CastelloBrancosobreo seuprocessodeaconselhamentoem
salão.«Éfácileumudaro lookdeumapessoaemsalão,mas
se a pessoanãoconseguirterexatamenteo mesmoresultado
emcasa,podeacabartudonumgrandearrependimento»,
concluia hairstylist.Perantea formacomo 2020 correu,
podeserquefazeralgumamudançanocabelosejaa solução


  • oua motivação– queprecisamosparacomeçarestenovo
    anocomumespíritomaispositivo.Q


“O CABELO É UM
MARCADOR VISUAL QUE
TODOS OS DIAS NOS
PODE RECORDAR
DO CAMINHO QUE
PODEMOS PERCORRER.»
FILIPA JARDIM DA SILVA
PSICÓLOGA

ELLE PT 97
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